1- Que devo fazer
para herdar a vida eterna? (Lc 10:25)
“Fazer” costumeiramente é
a tradução de duas palavras no grego: prasso e poieo. Porém eles têm significados diferentes.
Prasso
tem
como significado primário “fazer” e como definição secundária “praticar”. Prasso está mais ligado ao físico: tirar o lixo,
arrumar a cama, etc. Essas atividades são prasso.
Muitas vezes tenho que
fazer um esforço consciente para fazer-me fazer essas coisas.
Poieo
tem por definição primária “criar” e secundária “fazer”. Tem o significado de
ocorrência natural de ação. É como um artista pintando uma tela, ele está
segurando o pincel e controlando para onde vai enquanto ele dança por toda a
tela; mas ao mesmo tempo o artista não está realmente a controlar o pincel. A
arte que ele está criando está fluindo para fora dele, ele não se cansa como
ela funciona; a obra de arte é uma expressão
de quem ele é. No grego poieo é usado para explicar como as árvores dão
frutos.
No texto lido, “fazer” vem
do grego – poieo
“Que devo poieo para herdar a vida eterna?”
Fazer, não no significado
físico da coisa, de atividades que exigem nosso esforço mental para se
tornarem-se conscientes e que muitas vezes nos cansam.
Mas fazer no sentido de
fluir através de nós naturalmente, sem peso ou como se fosse um fardo.
A árvore não se cansa de
dar frutos, assim como poieo é uma expressão de quem a pessoa é.
Podemos mudar a pergunta
para: Que devo poieo (fazer) para herdar
(tornar-me participante) a(da) vida eterna? (Lc 10:25)
2- Então Jesus responde com duas perguntas: Como está escrito na lei? Como você a lê?
Jesus responde com duas
perguntas. Ele gostaria de saber se o doutor da lei realmente estava meditando
sobre as escrituras. E também gostaria de saber com qual visão de homem o
doutor da lei colocava sua interpretação.
Havia duas correntes de
interpretação da lei na época de Jesus, uma majoritária, que interpretava a
palavra “próximo” como sendo apenas aqueles do povo judeu; e outra corrente,
esta, minoritária, em que interpretava a palavra “próximo” como qualquer pessoa
independente do povo, cultura.
Então Jesus queria saber a
partir de qual olhar aquele doutor da lei enxergava esse trecho da escritura.
Ao passo que o doutor na
lei responde corretamente. (Lc 10:28)
Penso que a corrente que o
doutor na lei seguia era a mesma que Jesus seguia, ou seja, a corrente
minoritária, aquela em que “próximo” significava qualquer outra pessoa, não
importando de que nação ou religião, com quem se vive ou com quem se encontra.
Caso contrário, se o
doutor na lei interpretasse a partir da corrente majoritária, Jesus
argumentaria que ele estaria errado em sua resposta.
O doutor na lei tinha o
conhecimento, mas não praticava. Ou se ele praticava, era com enfado, com peso.
E tal situação, a de praticar o amor ao próximo como um peso faz com quê vez ou
outra isso escape.
3- E amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Lc 10:27b)
Toda a lei se resume a
este mandamento:
“Porquanto os mandamentos:
não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem
como qualquer outro preceito, todos se resumem neste mandamento: amarás o
teu próximo como a ti mesmo.” (Rm 13:9)
“Pois toda a lei se resume
num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Gl 5:14)
“Se vós, entretanto,
observais a Lei do Reino, como está registrada na Escritura e que ordena:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo, então estareis agindo corretamente” (Tg
2:8)
Então,
o que faltava ao doutor na lei?
Ora, ele sabia o que era
correto fazer para herdar a vida eterna, porém não tinha motivação para tal
ato.
(Lc 10:29) Justificar
significa: razão ou motivo.
Motivo significa condição
interna relativamente duradoura que leva o individuo ou que o predispõe a
persistir num comportamento orientado para um objeto, possibilitando a
transformação ou a permanência da situação.
Na
verdade o perito da lei queria achar um motivo que o movesse para poder amar o
próximo.
Jesus então conta a
parábola.
Quem é o bom samaritano?
O bom samaritano é aquele
que rejeita a importância religiosa de Jerusalém. Ou pelo menos a ideia de
centralização da adoração e por consequência uma interpretação simplista do
real significado de amar a Deus e ao próximo.
Os religiosos adoravam
apenas no templo. Apenas dentro das quatro paredes. E quando estavam fora
delas, eles se preocupavam com a sua aparência.
Foi assim que o sacerdote
e o levita agiram quando encontraram o homem semimorto à beira do caminho.
A preocupação deles estava
relacionada à sua reputação. Os dois voltavam de Jerusalém. Voltavam do templo.
Voltavam das quatro paredes. Mas não conseguiram manifestar o amor de Deus fora
delas.
Quando
minhas ações são motivadas por quem está me observando, eu me comporto por
condição.
Porém
quando minhas ações são motivadas por uma expressão daquilo que sou, eu me comporto
por convicção.
Quando eu não tenho a ação
do Espírito Santo fluindo em mim de dentro para fora eu me comporto por
condição.
Porém quando tenho a ação
do Espírito Santo fluindo em mim de dentro para fora eu me comporto por
convicção.
Eles não tinham o
entendimento sobre poieo. O fazer
deles estava relacionado ao significado de prasso.
O
fazer (prasso) do religioso é motivado por sua reputação e pela estrutura
física do templo.
A atitude do religioso é
uma obrigação, é uma prestação de contas apenas.
Quando o religioso está no
templo: ele “adora”, chora, lê a bíblia, dizima, ora. Ele participa da liturgia
do culto. E o religioso faz (prasso) isso por que é mandado,
constrangido a fazer.
Ele faz por obrigação.
Quando o religioso está
fora do templo ele se preocupa em não se misturar, em não se sujar. A
preocupação dele é aparentar ser ou que não é.
O
fazer (poieo) do bom samaritano é motivado por quem ele é e por quem ele
encontra em seu caminho.
Quando o bom samaritano
está no templo: ele adora, chora, lê a bíblia, dizima, ora. Ele participa da
liturgia do culto. E o samaritano faz (poieo)
isso por que é uma expressão daquilo que ele é.
Quando o bom samaritano
está fora do templo ele se preocupa em mover-se em direção ao sujo, ao
necessitado, ao carente, ao homem que precisa do amor de Deus.
O bom samaritano entendeu
a lei e a pôs em prática. Houve uma superação da religião. O bom samaritano
conseguiu manifestar o reino de Deus.
“O
evangelho não é o culto de domingo, mas é a vida de segunda.” (Alan Basílio)
“Minha mensagem e minha
proclamação não se formaram de palavras persuasivas de conhecimento, mas
constituíram-se em demonstração do poder do Espírito.” (1 Co 2:4)
(Lc 10:36)
A parábola do bom samaritano não é sobre o bom samaritano.
Mas sim, sobre a motivação interna do perito da lei.
Jesus contou a parábola para
transformar a motivação do perito na lei.
Qual tem sido a tua motivação?