sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Doutor na lei


1-       Que devo fazer para herdar a vida eterna? (Lc 10:25)
“Fazer” costumeiramente é a tradução de duas palavras no grego:  prasso e poieo. Porém eles têm significados diferentes.

Prasso tem como significado primário “fazer” e como definição secundária “praticar”. Prasso  está mais ligado ao físico: tirar o lixo, arrumar a cama, etc. Essas atividades são prasso.
Muitas vezes tenho que fazer um esforço consciente para fazer-me fazer essas coisas.

Poieo tem por definição primária “criar” e secundária “fazer”. Tem o significado de ocorrência natural de ação. É como um artista pintando uma tela, ele está segurando o pincel e controlando para onde vai enquanto ele dança por toda a tela; mas ao mesmo tempo o artista não está realmente a controlar o pincel. A arte que ele está criando está fluindo para fora dele, ele não se cansa como ela funciona; a obra de arte é uma expressão de quem ele é. No grego poieo  é usado para explicar como as árvores dão frutos.

No texto lido, “fazer” vem do grego – poieo

“Que devo poieo para herdar a vida eterna?”

Fazer, não no significado físico da coisa, de atividades que exigem nosso esforço mental para se tornarem-se conscientes e que muitas vezes nos cansam.

Mas fazer no sentido de fluir através de nós naturalmente, sem peso ou como se fosse um fardo.

A árvore não se cansa de dar frutos, assim como poieo  é uma expressão de quem a pessoa é.

Podemos mudar a pergunta para: Que devo poieo (fazer) para herdar (tornar-me participante) a(da) vida eterna? (Lc 10:25)


2-       Então Jesus responde com duas perguntas:  Como está escrito na lei? Como você a lê?

Jesus responde com duas perguntas. Ele gostaria de saber se o doutor da lei realmente estava meditando sobre as escrituras. E também gostaria de saber com qual visão de homem o doutor da lei colocava sua interpretação.

Havia duas correntes de interpretação da lei na época de Jesus, uma majoritária, que interpretava a palavra “próximo” como sendo apenas aqueles do povo judeu; e outra corrente, esta, minoritária, em que interpretava a palavra “próximo” como qualquer pessoa independente do povo, cultura.

Então Jesus queria saber a partir de qual olhar aquele doutor da lei enxergava esse trecho da escritura.

Ao passo que o doutor na lei responde corretamente. (Lc 10:28)

Penso que a corrente que o doutor na lei seguia era a mesma que Jesus seguia, ou seja, a corrente minoritária, aquela em que “próximo” significava qualquer outra pessoa, não importando de que nação ou religião, com quem se vive ou com quem se encontra.

Caso contrário, se o doutor na lei interpretasse a partir da corrente majoritária, Jesus argumentaria que ele estaria errado em sua resposta.

O doutor na lei tinha o conhecimento, mas não praticava. Ou se ele praticava, era com enfado, com peso. E tal situação, a de praticar o amor ao próximo como um peso faz com quê vez ou outra isso escape.


3-       E amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Lc 10:27b)

Toda a lei se resume a este mandamento:

“Porquanto os mandamentos: não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem como qualquer outro preceito, todos se resumem neste mandamento: amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Rm 13:9)

“Pois toda a lei se resume num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Gl 5:14)

“Se vós, entretanto, observais a Lei do Reino, como está registrada na Escritura e que ordena: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, então estareis agindo corretamente” (Tg 2:8)

Então, o que faltava ao doutor na lei?

Ora, ele sabia o que era correto fazer para herdar a vida eterna, porém não tinha motivação para tal ato.

(Lc 10:29) Justificar significa: razão ou motivo.

Motivo significa condição interna relativamente duradoura que leva o individuo ou que o predispõe a persistir num comportamento orientado para um objeto, possibilitando a transformação ou a permanência da situação.

Na verdade o perito da lei queria achar um motivo que o movesse para poder amar o próximo.

Jesus então conta a parábola.

Quem é o bom samaritano?

O bom samaritano é aquele que rejeita a importância religiosa de Jerusalém. Ou pelo menos a ideia de centralização da adoração e por consequência uma interpretação simplista do real significado de amar a Deus e ao próximo.

Os religiosos adoravam apenas no templo. Apenas dentro das quatro paredes. E quando estavam fora delas, eles se preocupavam com a sua aparência.

Foi assim que o sacerdote e o levita agiram quando encontraram o homem semimorto à beira do caminho.

A preocupação deles estava relacionada à sua reputação. Os dois voltavam de Jerusalém. Voltavam do templo. Voltavam das quatro paredes. Mas não conseguiram manifestar o amor de Deus fora delas.

Quando minhas ações são motivadas por quem está me observando, eu me comporto por condição.  

Porém quando minhas ações são motivadas por uma expressão daquilo que sou, eu me comporto por convicção.

Quando eu não tenho a ação do Espírito Santo fluindo em mim de dentro para fora eu me comporto por condição. 

Porém quando tenho a ação do Espírito Santo fluindo em mim de dentro para fora eu me comporto por convicção.

Eles não tinham o entendimento sobre poieo. O fazer deles estava relacionado ao significado de prasso.

O fazer (prasso) do religioso é motivado por sua reputação e pela estrutura física do templo.

A atitude do religioso é uma obrigação, é uma prestação de contas apenas.

Quando o religioso está no templo: ele “adora”, chora, lê a bíblia, dizima, ora. Ele participa da liturgia do culto. E o religioso faz (prasso) isso por que é mandado, constrangido a fazer. 

Ele faz por obrigação.

Quando o religioso está fora do templo ele se preocupa em não se misturar, em não se sujar. A preocupação dele é aparentar ser ou que não é.

O fazer (poieo) do bom samaritano é motivado por quem ele é e por quem ele encontra em seu caminho.

Quando o bom samaritano está no templo: ele adora, chora, lê a bíblia, dizima, ora. Ele participa da liturgia do culto. E o samaritano faz (poieo) isso por que é uma expressão daquilo que ele é.

Quando o bom samaritano está fora do templo ele se preocupa em mover-se em direção ao sujo, ao necessitado, ao carente, ao homem que precisa do amor de Deus.

O bom samaritano entendeu a lei e a pôs em prática. Houve uma superação da religião. O bom samaritano conseguiu manifestar o reino de Deus.

“O evangelho não é o culto de domingo, mas é a vida de segunda.” (Alan Basílio)

“Minha mensagem e minha proclamação não se formaram de palavras persuasivas de conhecimento, mas constituíram-se em demonstração do poder do Espírito.” (1 Co 2:4)

(Lc 10:36)

A parábola do bom samaritano não é sobre o bom samaritano. Mas sim, sobre a motivação interna do perito da lei. 

Jesus contou a parábola para transformar a motivação do perito na lei.


Qual tem sido a tua motivação?

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Meu par

Meu par
Faz-me parar
No tempo
E o vento
Devagar
Divaga
Arrasta
O momento
Meus pensamentos
Caem como
Água ao chão
Em toda direção
Espalha-se
Espelha-se
Como vidro
Quebra-se
Parte-se
Todo
O inteiro
Já não
Existe mais
No japão
Fora parar
É assim
Quando digo sim
Ao meu par.


Desapegar

O homem e a sua mania de reter. Desde pequeno já aprende a esconder o pacote de biscoito para não dividir com o coleguinha e por consequência render mais a ele próprio. Desapegue! Divida seu lanche com o coleguinha.

Aprende a conquistar. Quanto mais, melhor! Quanto maior for a sua renda, melhor será sua vida. Quanto maior a poupança, maior a chance de viver mais. Viver mais, porém não significa, necessariamente, existir mais. Poupe, mas invista em momentos que você possa desfrutar com os seus amigos.

O homem e a sua mania de reter. Reter até amigos! Ora, quem não deseja possuir vários amigos. Possuir, palavra forte, não?! Costuma-se dizer “Eu tenho vários amigos”; “Fulano e Ciclano são meus amigos!”

Os pronomes nos dizem tudo. Desejo de reter. A ânsia por reter é tão grande que colecionar no seu perfil menos de mil amigos em alguma rede social é prova de insucesso.

O homem e a sua mania de reter. Reter até sentimentos. “Ai de você se brincar com os meus sentimentos”, diz a adolescente, ameaçando o jovem namorado que conhecera há duas semanas.

Às vezes o homem retém tanto sentimento ruim dentro dele que acaba prejudicando-o. Reter sentimentos não faz bem a ninguém. Reter mágoas então, só prejudica quem as retém. Por isso não fique com a velha mania do homem de reter.

Reter sentimentos ruins faz mal à saúde, adverte o ministério dos sentimentos bons. Abandone a velha mania do homem de reter e pratique a nova mania: desapegar. Livre-se de todo sentimento ruim, liberando o perdão a quem se deve Perdoe. Por que perdoar é o contrário de reter. Perdoar é liberar. Perdoar é desapegar.



Deixe ir aquela ferida, aquele sentimento de estimação, que está guardadinho no canto do seu coração. Aquela velha mania que você tem de deixar ele ali, quietinho, de cutucá-lo de vez em quando só pra saber que ainda continua ali.

Não retenha isso. Não guarde isso. Não poupe essa mágoa. Pois reter isso, guardar esse tipo de sentimento e deixa aprisionado. Reter ou não perdoar não é ruim para o outro, mas antes, é prejudicial a quem o guarda.

Por isso abandone a velha mania de reter e coloque em prática a nova mania de desapegar.