Uma coisa que gosto muito
de fazer é correr. Às vezes em boa companhia, às vezes apenas em minha própria
companhia. Além de fazer bem ao corpo, faz bem à mente. E é nesta última,
particularmente, que estou interessado. Muitas vezes faço uma corrida para
colocar as ideias no lugar, para desestressar.
O local que costumo correr geralmente é na orla marítima da cidade em
que moro. Como não sou um corredor assíduo, sempre sofro com a minha própria
condição física de sedentário e para aumentar a dificuldade também sofro com os
fortes ventos existentes na orla.
Não preciso nem falar dos ventos contras, eles são sem
dúvidas um desafio incrível. O peso do corpo parece duplicar. As pernas pesam,
parece que um personal trainer
colocou dez quilos a mais em cada perna. O ritmo das passadas começa diminuir,
enquanto que o ritmo do coração aumenta. O esforço é maior! A energia é maior,
mas a distância percorrida parece sempre a mesma. É frustrante! Torna o
trabalho mais difícil, mas não impossível.
Afinal, às vezes é bom ter um desafio para dar uma motivação a mais.
Porém o que me preocupou hoje durante a corrida não foram
os ventos contras, pois esses eu já sabia serem um inimigo declarado! Hoje
conheci alguém que pensei ser um aliado e o sempre tive como tal. Os ventos a
favor. Geralmente eles te deixam mais leves, a troca de passadas acontece com
agilidade e a corrida flui mais naturalmente. Sempre me apoiei neles, mas hoje
quase me derrubaram. Sopraram forte, aceleraram minhas passadas, levaram-me a
um ritmo bastante acelerado, que eu não estava acostumado logo me causando mais
esforço físico além de que quase fui jogado ao chão. Tive de controlar as
minhas passadas de maneira que não pudesse ser derrubado por eles.
Lembrei-me do Paulo, o apóstolo, quando ele diz para ter
cuidado com os ventos e não se deixar levar por eles. Hoje senti na pele – e
nas pernas – o que ele quis alertar. Os ventos a favor geralmente são
associados a coisas boas. E não discordo, mas agora consigo olhar um lado
negativo neles. Os ventos a favor impulsionam o homem, sem dúvida, mas podem
impulsionar em direção à queda. Quando os ventos são fortes as passadas não
podem dar conta de controlar o homem e este acaba sendo levado por aqueles.
Viktor Frankl fala que a existência do homem, assim como
um velejador guiando seu barco, não pode si deixar levar pelo vento. O vento
impulsiona, mas não o controla. Os ventos a favor empurram, mas é o homem quem
dá as coordenadas. Se ele deixar os ventos a favor tomarem direção da sua
existência ele se encaminhará para a queda no abismo do vazio.
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