quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ventos

Uma coisa que gosto muito de fazer é correr. Às vezes em boa companhia, às vezes apenas em minha própria companhia. Além de fazer bem ao corpo, faz bem à mente. E é nesta última, particularmente, que estou interessado. Muitas vezes faço uma corrida para colocar as ideias no lugar, para desestressar.  O local que costumo correr geralmente é na orla marítima da cidade em que moro. Como não sou um corredor assíduo, sempre sofro com a minha própria condição física de sedentário e para aumentar a dificuldade também sofro com os fortes ventos existentes na orla.
            
Não preciso nem falar dos ventos contras, eles são sem dúvidas um desafio incrível. O peso do corpo parece duplicar. As pernas pesam, parece que um personal trainer colocou dez quilos a mais em cada perna. O ritmo das passadas começa diminuir, enquanto que o ritmo do coração aumenta. O esforço é maior! A energia é maior, mas a distância percorrida parece sempre a mesma. É frustrante! Torna o trabalho mais difícil, mas não impossível.  Afinal, às vezes é bom ter um desafio para dar uma motivação a mais.
            
Porém o que me preocupou hoje durante a corrida não foram os ventos contras, pois esses eu já sabia serem um inimigo declarado! Hoje conheci alguém que pensei ser um aliado e o sempre tive como tal. Os ventos a favor. Geralmente eles te deixam mais leves, a troca de passadas acontece com agilidade e a corrida flui mais naturalmente. Sempre me apoiei neles, mas hoje quase me derrubaram. Sopraram forte, aceleraram minhas passadas, levaram-me a um ritmo bastante acelerado, que eu não estava acostumado logo me causando mais esforço físico além de que quase fui jogado ao chão. Tive de controlar as minhas passadas de maneira que não pudesse ser derrubado por eles.
            
Lembrei-me do Paulo, o apóstolo, quando ele diz para ter cuidado com os ventos e não se deixar levar por eles. Hoje senti na pele – e nas pernas – o que ele quis alertar. Os ventos a favor geralmente são associados a coisas boas. E não discordo, mas agora consigo olhar um lado negativo neles. Os ventos a favor impulsionam o homem, sem dúvida, mas podem impulsionar em direção à queda. Quando os ventos são fortes as passadas não podem dar conta de controlar o homem e este acaba sendo levado por aqueles.

            
Viktor Frankl fala que a existência do homem, assim como um velejador guiando seu barco, não pode si deixar levar pelo vento. O vento impulsiona, mas não o controla. Os ventos a favor empurram, mas é o homem quem dá as coordenadas. Se ele deixar os ventos a favor tomarem direção da sua existência ele se encaminhará para a queda no abismo do vazio. 

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