A psicologia é uma ciência bastante
ampla, possui várias áreas teóricas assim como também várias áreas de atuações.
É sabido que para atuar em qualquer área que seja é preciso ter uma
fundamentação teórica sólida.
Como
todo aluno de graduação de psicologia, ao escutar o anúncio da professora de
que a turma visitaria uma clínica de saúde mental fiquei curioso, pois teria a
oportunidade de olhar na prática a atuação de um psicólogo; além de conhecer as
políticas de uma instituição que trabalha nessa área; e também ter a chance de
observar a discrepância entre teoria acadêmica e prática. No primeiro dia, um
discurso longo e cansativo, porém não menos importante, sobre um pouco do
funcionamento da clínica; falou-se desde o procedimento da admissão de
pacientes até a liberação dos mesmos. Após esse discurso partiu-se para a parte
em que um dos psicólogos da clínica apresentaria a sua contribuição dentro do
funcionamento da instituição. O segundo dia começou com os estudantes
assistindo a um grupo onde os pacientes são ouvidos pela equipe técnica da
clínica; no outro momento discutiu-se com o psicólogo a eficiência dessa
política enquanto diminuição do sofrimento dos pacientes da clínica. E no
último dia, houve um contato mais demorado com alguns pacientes e a
oportunidade de conhecer a história de alguns deles; logo após, uma conversa
com o psicólogo sobre as nossas impressões dessas três manhãs de visitas na
clínica.
Num primeiro momento é
difícil ver um número assustador de pacientes e não se perguntar como é que eu,
enquanto psicólogo, poderia intervir nesse local. Essa foi a dúvida que eu carreguei durante o
período de visita.
Chão
é tudo aquilo que me sustenta, não necessariamente – ou tão somente – o chão de
terra ou de pedra. Jesus Cristo, a família, a música, a psicologia são o meu
chão. Pois bem, como já dizia o poeta chão é tudo aquilo que me sustenta, e
dentro da psicologia cada profissional tem – ou pelo menos deveria ter - um
chão por onde andar; ter uma fundamentação teórica sólida. Tenho que ter um
chão. Esse foi o resumo da minha experiência nos dias de visita à clínica.
Dentre tantas coisas que eu pude e que observei, a que mais me chamou a atenção
foi a diferença de possibilidades de atuação (no sentido mais amplo da palavra)
entre um profissional que tem uma base sólida e outro que não tem uma
fundamentação teórica firme. Já é de se saber que para fazer um trabalho bem
feito tem que estudar e estudar bastante. Porém os acadêmicos estudam apenas para tirar
uma boa nota, para passar na cadeira; muitas vezes esquecem o real sentido da
coisa. Estudar, não só para passar, mas também para ter um chão firme onde, só
assim, será possível realizar um trabalho consistente. Conhecer a prática de um
profissional que tem uma base sólida é apaixonante! Ver como é possível fazer
aquilo que você se dispôs lá no início do curso. Ter uma fundamentação teórica
sólida é essencial e isso reflete diretamente na atuação do profissional. E foi
esse o observado, a competência de um colega, que tem uma base teórica sólida, como
iluminação, como exemplo para quem ainda está na metade da graduação, porém no
começo de uma vida junto à psicologia.
Construir
esse chão não é fácil, é desafiador! Por isso a incompetência bate à porta. Mas
é justamente o que eu propus fazer, enquanto psicólogo, é que me motiva a ter
algo que me sustente, que me sirva de apoio. Citando Viktor Frankl: “Isso quer
dizer que ser humano significa dirigir-se além de si mesmo, para algo diferente
de si mesmo, para alguma coisa ou alguém. Em outras palavras, o interesse
preponderante do ser humano não é por quaisquer condições internas dele
próprio, sejam elas prazer ou equilíbrio interior, mas ele é orientado para o
mundo lá fora, e neste mundo procura um sentido que pudesse realizar ou uma
pessoa que pudesse amar. E, com base em sua autocompreensão ontológica
pré-reflexiva, tem conhecimento de que ele se autorrealiza precisamente à
medida que se esquece de si próprio; e ele se esquece de si próprio novamente à
mesma medida que se entrega a uma causa à qual serve, ou a uma pessoa que ama.”
E é nessa tarefa de
ajudar o outro é que eu me realizo. Mas só posso ajudar o outro de forma
relevante se eu tiver um chão.