quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tenho que ter um chão


           A psicologia é uma ciência bastante ampla, possui várias áreas teóricas assim como também várias áreas de atuações. É sabido que para atuar em qualquer área que seja é preciso ter uma fundamentação teórica sólida.
            Como todo aluno de graduação de psicologia, ao escutar o anúncio da professora de que a turma visitaria uma clínica de saúde mental fiquei curioso, pois teria a oportunidade de olhar na prática a atuação de um psicólogo; além de conhecer as políticas de uma instituição que trabalha nessa área; e também ter a chance de observar a discrepância entre teoria acadêmica e prática. No primeiro dia, um discurso longo e cansativo, porém não menos importante, sobre um pouco do funcionamento da clínica; falou-se desde o procedimento da admissão de pacientes até a liberação dos mesmos. Após esse discurso partiu-se para a parte em que um dos psicólogos da clínica apresentaria a sua contribuição dentro do funcionamento da instituição. O segundo dia começou com os estudantes assistindo a um grupo onde os pacientes são ouvidos pela equipe técnica da clínica; no outro momento discutiu-se com o psicólogo a eficiência dessa política enquanto diminuição do sofrimento dos pacientes da clínica. E no último dia, houve um contato mais demorado com alguns pacientes e a oportunidade de conhecer a história de alguns deles; logo após, uma conversa com o psicólogo sobre as nossas impressões dessas três manhãs de visitas na clínica.
Num primeiro momento é difícil ver um número assustador de pacientes e não se perguntar como é que eu, enquanto psicólogo, poderia intervir nesse local.  Essa foi a dúvida que eu carreguei durante o período de visita.



            Chão é tudo aquilo que me sustenta, não necessariamente – ou tão somente – o chão de terra ou de pedra. Jesus Cristo, a família, a música, a psicologia são o meu chão. Pois bem, como já dizia o poeta chão é tudo aquilo que me sustenta, e dentro da psicologia cada profissional tem – ou pelo menos deveria ter - um chão por onde andar; ter uma fundamentação teórica sólida. Tenho que ter um chão. Esse foi o resumo da minha experiência nos dias de visita à clínica. Dentre tantas coisas que eu pude e que observei, a que mais me chamou a atenção foi a diferença de possibilidades de atuação (no sentido mais amplo da palavra) entre um profissional que tem uma base sólida e outro que não tem uma fundamentação teórica firme. Já é de se saber que para fazer um trabalho bem feito tem que estudar e estudar bastante.  Porém os acadêmicos estudam apenas para tirar uma boa nota, para passar na cadeira; muitas vezes esquecem o real sentido da coisa. Estudar, não só para passar, mas também para ter um chão firme onde, só assim, será possível realizar um trabalho consistente. Conhecer a prática de um profissional que tem uma base sólida é apaixonante! Ver como é possível fazer aquilo que você se dispôs lá no início do curso. Ter uma fundamentação teórica sólida é essencial e isso reflete diretamente na atuação do profissional. E foi esse o observado, a competência de um colega, que tem uma base teórica sólida, como iluminação, como exemplo para quem ainda está na metade da graduação, porém no começo de uma vida junto à psicologia.
            Construir esse chão não é fácil, é desafiador! Por isso a incompetência bate à porta. Mas é justamente o que eu propus fazer, enquanto psicólogo, é que me motiva a ter algo que me sustente, que me sirva de apoio. Citando Viktor Frankl: “Isso quer dizer que ser humano significa dirigir-se além de si mesmo, para algo diferente de si mesmo, para alguma coisa ou alguém. Em outras palavras, o interesse preponderante do ser humano não é por quaisquer condições internas dele próprio, sejam elas prazer ou equilíbrio interior, mas ele é orientado para o mundo lá fora, e neste mundo procura um sentido que pudesse realizar ou uma pessoa que pudesse amar. E, com base em sua autocompreensão ontológica pré-reflexiva, tem conhecimento de que ele se autorrealiza precisamente à medida que se esquece de si próprio; e ele se esquece de si próprio novamente à mesma medida que se entrega a uma causa à qual serve, ou a uma pessoa que ama.”
              E é nessa tarefa de ajudar o outro é que eu me realizo. Mas só posso ajudar o outro de forma relevante se eu tiver um chão.

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