sexta-feira, 25 de abril de 2014

Pai nosso, Perdoa-nos as nossas distâncias

“Pai nosso [...], perdoa-nos as nossas dívidas...”

                O materialismo ou o capitalismo - ou quem sabe os dois - fizeram-me acreditar em uma visão simplista e reducionista desse pedaço da oração do Pai Nosso feito no sermão do monte por Jesus de Nazaré.
                O ranço do materialismo trouxe até mim uma mentalidade de que pedir perdão às minhas dívidas era pedir perdão por aquilo que falta ou deixei de pagar seja por ausência de dinheiro, de caráter ou de planejamento. Sempre acreditei nessa máxima. “Perdoa minha dívida” é igual a “perdoa aquilo que não paguei ou que usurpei do outro”, materialmente falando.
                A filosofia de Jesus é abarcar o homem todo, em todas as suas circunstâncias. E toda fala de Jesus escrita em suas biografias tem essa tônica pelas entrelinhas. É preciso percebê-la. Por que na oração do Pai Nosso seria diferente? Por que eu sempre penso nessa parte, em específico, como uma proposta materialista? Esse é o problema da não reflexão. Orar, fazer uma reza, repetir uma ladainha; a automatização do Pai Nosso traz uma cegueira às palavras verbalizadas por Jesus e escritas por seus biógrafos. Bom, mas então, o que estaria nas entrelinhas desse: “Perdoa-nos as nossas dívidas...” ?!
                 A visão de Jesus, a visão sobre o homem todo em todas as suas circunstâncias, abre o horizonte da palavra dívida. A chamada de Jesus, o existencialismo de Cristo sempre foi um existir para fora de si. Ele é um exemplo de uma pessoa que se esqueceu de si mesmo e lançou-se para fora, dedicando-se a uma causa.  

                Um dos sinônimos de dívida é a palavra distância, logo Jesus orou ao Eterno pedindo perdão pelas nossas distâncias. Distâncias baseadas no evangelho para o homem todo em todas as suas circunstâncias. Distâncias de suporte àquele que precisa de ajuda; àquele que precisa de um pão para fazer uma refeição; àquele que precisa de uma roupa para vestir; que precisa de um abraço para sentir a sua angústia existencial passar. Distância do chamado de Jesus. Distância do ser-para-fora que o nazareno nos chama a ser; distância do doar-se em contrapartida a aproximação do egocentrismo e do meu-eu. Distância da consciência sobre essa perspectiva, que é a ótica do negar a si mesmo.

                “Pai nosso [...], perdoa-nos as nossas distâncias...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário