“Pai nosso [...], perdoa-nos as nossas
dívidas...”
O materialismo ou o capitalismo
- ou quem sabe os dois - fizeram-me acreditar em uma visão simplista e reducionista
desse pedaço da oração do Pai Nosso feito no sermão do monte por Jesus de
Nazaré.
O ranço do materialismo trouxe
até mim uma mentalidade de que pedir perdão às minhas dívidas era pedir perdão
por aquilo que falta ou deixei de pagar seja por ausência de dinheiro, de caráter
ou de planejamento. Sempre acreditei nessa máxima. “Perdoa minha dívida” é igual a “perdoa
aquilo que não paguei ou que usurpei do outro”, materialmente falando.
A filosofia de Jesus é abarcar o
homem todo, em todas as suas circunstâncias. E toda fala de Jesus escrita em
suas biografias tem essa tônica pelas entrelinhas. É preciso percebê-la. Por
que na oração do Pai Nosso seria diferente? Por que eu sempre penso nessa
parte, em específico, como uma proposta materialista? Esse é o problema da não
reflexão. Orar, fazer uma reza, repetir uma ladainha; a automatização do Pai
Nosso traz uma cegueira às palavras verbalizadas por Jesus e escritas por seus
biógrafos. Bom, mas então, o que estaria nas entrelinhas desse: “Perdoa-nos as nossas dívidas...” ?!
A visão de Jesus, a visão sobre o homem todo
em todas as suas circunstâncias, abre o horizonte da palavra dívida. A chamada
de Jesus, o existencialismo de Cristo sempre foi um existir para fora de si.
Ele é um exemplo de uma pessoa que se esqueceu de si mesmo e lançou-se para fora,
dedicando-se a uma causa.
Um dos sinônimos de dívida é a palavra distância, logo Jesus orou ao Eterno pedindo perdão pelas nossas distâncias.
Distâncias baseadas no evangelho para o homem todo em todas as suas
circunstâncias. Distâncias de suporte àquele que precisa de ajuda; àquele que
precisa de um pão para fazer uma refeição; àquele que precisa de uma roupa para
vestir; que precisa de um abraço para sentir a sua angústia existencial passar.
Distância do chamado de Jesus. Distância do ser-para-fora que o nazareno nos
chama a ser; distância do doar-se em contrapartida a aproximação do
egocentrismo e do meu-eu. Distância da consciência sobre essa perspectiva, que
é a ótica do negar a si mesmo.
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