terça-feira, 18 de novembro de 2014

Então queres ser um escritor? - Charles Bukowski

(Tradução: Manuel A. Domingos)

Se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Estou à porta e bato

Hoje decidi visitar um amigo, me arrumei, criei expectativas para o nosso encontro. Há algum tempo queria isso. Poder vê-lo, conversar com ele, trocar ideias, partilhar meus sonhos, convidá-lo para retornar a comunhão comigo. Algo que perdemos no decorrer da vida.

Encontro-me aqui, à sua porta. Batendo em seu portão. Há meia hora. Trinta minutos batendo no portão de alguém nos dias de hoje é muito tempo! Mas ainda insisto... Na esperança que ele venha abrir a porta.

Quem gosta de esperar? Ninguém gosta, não é verdade?! Mas sou paciente, gosto muito desse amigo, daria até a minha vida por ele!

Estou batendo novamente e está muito quente aqui fora. O sol está escaldante. Parece que vou derreter de calor. Estendo minha mão para bater no portão, sinto meu braço cansar. Levanto minha cabeça, tento olhar para dentro da casa. O suor escorre pelo meu rosto, descendo da minha fronte indo até o meu queixo. Meus olhos semiabertos por causa da claridade do sol. Acredito que esteja fazendo uns 40° de temperatura. Minhas pernas começam doer, vim caminhando, estou em pé há algum tempo. Meus pés esquentam debaixo das minhas sandálias.

Da vez passada que vim aqui - só pra você saber, não é a primeira vez que estou batendo à porta desse meu amigo, já fiz outras tentativas -, quem me pegou foi a chuva. Voltei encharcado para casa.

Bom... já se foram 45 minutos e nada dele abrir a porta. Você deve estar se perguntando, mas será que ele está em casa? E eu respondo: está sim! Pois foi ele quem me chamou, foi ele quem me ligou dizendo "Jesus, onde está você?!". E, pelo som da sua voz, parecia desesperado, parecia precisar de ajuda.

Se ele pudesse me ouvir, eu diria: “Amigo, eis que estou à porta e bato: se você ouvisse a minha voz e abrisse esse portão, entraria em sua casa e cearia contigo.”


Porém não posso invadir a sua casa, destruindo o seu portão, sendo intrometido, afinal de contas, isso não seria muito educado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Às alturas


Quando chego
Perto de você,
Pareço flutuar.
Fico leve.
Solto.
Só, tô.
Mas não.
Justo.
Jus, tô.
Isso sim.
Ao
Nadar.
Pairar.
Vô, ar
Às alturas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Reciprocidade

O que move um relacionamento é a reciprocidade. Não adianta um querer e o outro, não. Quando um não quer, dois não brigam, já dizia o ditado. Da mesma forma são os relacionamentos: quando um não quer, dois não se ligam. 

O relacionamento com o Eterno é, ou pelo menos deveria ser, como um relacionamento com outra pessoa. O problema é que Ele é tido como uma entidade distante. Ou então como uma entidade que recebe vários pedidos e está prestes à responder quando o pedinte se comportar de forma adequada.
            
O relacionamento com o Pai é construído de forma errada, baseado em trocas, barganhas, chantagens, etc...
           


Ele é amor. Ele amou todo o mundo, como está escrito em uma das biografias de Cristo Jesus pelo apóstolo João, o Eterno amou o mundo, ele amou todos os habitantes da Terra.
           
E o que se espera quando se ama alguém? O que se espera é a reciprocidade. É esta a força motriz de um relacionamento. O amor dá a partida nessa chama, mas o que a mantém acesa é a reciprocidade. A troca. Isto é que faz com que o amor seja concreto. Isto é que faz o relacionamento existir de fato, em sua concretude. Se eu correspondo o amor de alguém com o meu amor, aí sim teremos um relacionamento amoroso de fato.
            
Deus deseja entregar o seu coração para aqueles a quem ele amou. Imagina só, a pessoa que criou tudo... essa pessoa espera a minha reciprocidade. O Eterno já me amou e aguarda ansioso pelo meu amor correspondido.

            
Assim como é o desejo de um homem apaixonado receber a correspondência da sua amada, assim é o anseio mais profundo de Deus: receber o amor daqueles aos quais Ele já amou. Você tem correspondido a esse amor?