Ao sopé da montanha, uma multidão os
aguardava. Enquanto se aproximavam, um homem saiu do meio do povo e ajoelhou-se
implorando: “Mestre, tem misericórdia do meu filho. Ele tem acessos de loucura
e sofre terrivelmente com as convulsões. Às vezes cai no fogo, outras vezes no
rio. Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam fazer nada.” Jesus
suspirou: “Mas que geração! Vocês não
conhecem Deus e são muito maus! Até quando vou ter de aguentar esse tipo de
coisa? Quantas vezes ainda vou ter de passar por isso? Tragam o menino aqui!”. Ele
ordenou que o demônio que o afligia saísse e o demônio foi embora. Na mesma
hora, o menino ficou bem. Quando os discípulos ficaram a sós com Jesus, eles
lhe perguntaram: “Por que não pudemos expulsá-lo?”. “Por que vocês ainda não levam Deus a sério”, foi a resposta. “A verdade simples é que,
se vocês tivessem fé, pequena como uma semente de mostarda, poderiam dizer a
esta montanha: ‘Saia daqui!’ e ela sairia. Não haveria nada que vocês não pudessem enfrentar.” (Mt 17:14-21 – A Mensagem)
1-
Montanha como algo interno:
“Se vocês tivessem fé
[...] poderiam dizer a esta montanha: ‘Saia daqui!’ e ela sairia.”
Montanha
nos reflete às dificuldades em geral, qualquer problema externo a nós ou uma contingência
que gera uma crise costumamos falar que isso é uma montanha a ser superada, uma
montanha a ser removida das nossas vidas. Por exemplo, a situação de um
desempregado: ele vai à igreja, ou tem o seu momento de oração com Deus em que
pede para essa montanha – ou gigante – seja removido, superado.
Sempre
a comparação é relacionada ao exterior do homem enquanto atrapalho para chegar
a algum objetivo. Geralmente o objetivo é uma conquista pessoal. Outro dia uma
pessoa me disse que estava orando para Deus remover um gigante em sua vida. O
gigante que a pessoa citara era a sua chefa, que tinha atitudes de perseguição
para com ela.
Porém
é preciso enxergar mais longe. E mais longe significa mais profundo. E Mais
profundo significa enxergar a montanha como algo interno. Enxergo a montanha
(dificuldade) como algo externo (fora de mim) que atrapalha a minha satisfação
própria. Enquanto que deveria olhá-la como algo interno (em mim) que dificulta a
reparação (conserto – reparar algo para que volte a seu estado a qual foi
desenvolvido para tal) do outro.
Os
discípulos perguntaram a Jesus por que não conseguiram expulsar o demônio do
menino. Jesus respondeu por que eles ainda
não levavam Deus a sério. Era uma dificuldade interna dos discípulos, uma
falha no caráter. Eles ainda não estavam encarando o seu chamado a sério. Ainda
deveriam ter dúvidas sobre isso.
O
interessante é que o texto fala que eles estavam ao sopé da montanha, ou seja, na parte mais baixa da montanha; eles
estavam à base dela. O texto não diz, mas provavelmente eles estavam em um vale. Podemos entender “vale” como uma
contingência de crise. Os discípulos estavam aflitos por que não conseguiram
expulsar o demônio. A angústia havia se instalado em cada um deles. Aqui há uma
conexão com o texto de Salmos 23:4a que diz: “Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte”.
Os
discípulos de Jesus estavam em um vale, diante de uma montanha, à sombra da
morte. Ou seja, os discípulos estavam em uma crise, diante da dificuldade, à
beira da separação com o Eterno.
A
crise dos discípulos era em relação a uma frustração de não poder ajudar o
próximo em função de uma falta de postura interna deles de comunhão com Deus.
Muitas vezes não pensamos em montanhas internas, mas tão somente em montanhas
externas. Jesus fala metaforicamente sobre a remoção da montanha pela fé
comparando-a com uma dificuldade interna que diminui a chance de ajudar o
próximo a se consertar com o Pai. A comparação com a montanha é em analogia a
uma posição aquém em conexão à humanidade em Jesus. A situação do vale da
sombra da morte está próxima implica dizer que a separação, ou a falta de
seriedade em relação a Deus, que a conexão com a humanidade em Adão está perto.
E é por isso que o mover de Deus através dos discípulos é falho.
Logo,
enxergar a montanha como uma dificuldade interna é uma interpretação mais
profunda da fala de Jesus. O interior é mais difícil de ser trabalhado que o
exterior. Focar em fatores externos é o menor dos problemas. O que acontece é
que o homem muitas vezes se baseia em contingências, mas antes, ele deve ter convicção
e encarar com seriedade, responsabilidade e entendimento de que seu chamado é
único e específico na Terra e que só ele é capaz de fazer aquilo para o qual
foi chamado fazer.
2-
Poder-se-á fazer alguma coisa:
“Eu o trouxe aos teus
discípulos, mas eles não puderam fazer nada.”
Imagina a alegria de Jesus ao receber essa notícia do pai
do menino que sofria com acessos de loucura que os seus discípulos não puderam
fazer nada? O texto não explicita a entonação da resposta de Jesus, mas
acredito não foi uma das melhores possíveis. Acredito que ele deve ter olhado
para os discípulos, dado aquele belo suspiro, contado até dez e respondeu
decepcionado. A incredulidade dos discípulos fez com que Jesus se desapontasse,
pois eles não tinham confiança em quem era Deus e acabavam indo contra os
propósitos dele.
A tristeza de Jesus foi simplesmente pelo motivo dos seus
discípulos ainda não terem a firmeza dos seus respectivos chamados e por
consequência diminuírem a ação de Deus através das suas vidas.
Isso
nos ensina que enquanto estamos displicentes para com o nosso chamado estamos
deixando de realizá-lo. Muitas vezes queremos um profundo agir de Deus em
nossas vidas, mas não nos entregamos profundamente à Ele. Assim que os
discípulos de Jesus agiam naquele momento, não havia seriedade, não havia
intimidade com Deus, por isso não conseguiram livrar o sofrimento do menino
lunático.
O menino sofria em algumas áreas de sua vida, tanto na
área espiritual como na área física, sua saúde estava afetada pelo demônio que afligia
sua vida. Jesus, livre de montanhas, livre de conflitos internos, de dúvidas a
respeito de seu chamado; Jesus livre da humanidade em Adão pede ao seu Pai com
quem tinha intimidade com toda a certeza de que ele é capaz de remover o
sofrimento do menino. E assim, o sofrimento do garoto é levado embora através
da vida de Jesus.
Por isso Jesus responde aos discípulos que se estes
tivessem fé poderiam confiar e pedir a remoção das suas montanhas, das suas
falhas de caráter, das suas inconstâncias, das suas faltas de intimidade com
Deus. Então a partir daí eles poderiam enfrentar tudo, não haveria nada que
eles não pudessem enfrentar.
Logo podemos concluir que a fé que remove montanhas é
aquela que tira todas as dúvidas a respeito dos propósitos de Deus. Assim como
Deus queria agir através dos discípulos para tirar o sofrimento do menino
lunático, assim também Deus deseja agir através de mim e de você para
consertar, para reparar alguém para que este volte a seu estado a qual foi criado
para tal. Desse modo não existe nada que prevaleça contra nossa oração.
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