terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A fé que remove montanhas


Ao sopé da montanha, uma multidão os aguardava. Enquanto se aproximavam, um homem saiu do meio do povo e ajoelhou-se implorando: “Mestre, tem misericórdia do meu filho. Ele tem acessos de loucura e sofre terrivelmente com as convulsões. Às vezes cai no fogo, outras vezes no rio. Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam fazer nada.” Jesus suspirou: “Mas que geração! Vocês não conhecem Deus e são muito maus! Até quando vou ter de aguentar esse tipo de coisa? Quantas vezes ainda vou ter de passar por isso? Tragam o menino aqui!”. Ele ordenou que o demônio que o afligia saísse e o demônio foi embora. Na mesma hora, o menino ficou bem. Quando os discípulos ficaram a sós com Jesus, eles lhe perguntaram: “Por que não pudemos expulsá-lo?”. “Por que vocês ainda não levam Deus a sério”, foi a resposta. “A verdade simples é que, se vocês tivessem fé, pequena como uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta montanha: ‘Saia daqui!’ e ela sairia. Não haveria nada que vocês não pudessem enfrentar.” (Mt 17:14-21 – A Mensagem)

1-      Montanha como algo interno:

“Se vocês tivessem fé [...] poderiam dizer a esta montanha: ‘Saia daqui!’ e ela sairia.”

Montanha nos reflete às dificuldades em geral, qualquer problema externo a nós ou uma contingência que gera uma crise costumamos falar que isso é uma montanha a ser superada, uma montanha a ser removida das nossas vidas. Por exemplo, a situação de um desempregado: ele vai à igreja, ou tem o seu momento de oração com Deus em que pede para essa montanha – ou gigante – seja removido, superado.

Sempre a comparação é relacionada ao exterior do homem enquanto atrapalho para chegar a algum objetivo. Geralmente o objetivo é uma conquista pessoal. Outro dia uma pessoa me disse que estava orando para Deus remover um gigante em sua vida. O gigante que a pessoa citara era a sua chefa, que tinha atitudes de perseguição para com ela.

Porém é preciso enxergar mais longe. E mais longe significa mais profundo. E Mais profundo significa enxergar a montanha como algo interno. Enxergo a montanha (dificuldade) como algo externo (fora de mim) que atrapalha a minha satisfação própria. Enquanto que deveria olhá-la como algo interno (em mim) que dificulta a reparação (conserto – reparar algo para que volte a seu estado a qual foi desenvolvido para tal) do outro.

Os discípulos perguntaram a Jesus por que não conseguiram expulsar o demônio do menino. Jesus respondeu por que eles ainda não levavam Deus a sério. Era uma dificuldade interna dos discípulos, uma falha no caráter. Eles ainda não estavam encarando o seu chamado a sério. Ainda deveriam ter dúvidas sobre isso.

O interessante é que o texto fala que eles estavam ao sopé da montanha, ou seja, na parte mais baixa da montanha; eles estavam à base dela. O texto não diz, mas provavelmente eles estavam em um vale. Podemos entender “vale” como uma contingência de crise. Os discípulos estavam aflitos por que não conseguiram expulsar o demônio. A angústia havia se instalado em cada um deles. Aqui há uma conexão com o texto de Salmos 23:4a que diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte”.

Os discípulos de Jesus estavam em um vale, diante de uma montanha, à sombra da morte. Ou seja, os discípulos estavam em uma crise, diante da dificuldade, à beira da separação com o Eterno.

A crise dos discípulos era em relação a uma frustração de não poder ajudar o próximo em função de uma falta de postura interna deles de comunhão com Deus. Muitas vezes não pensamos em montanhas internas, mas tão somente em montanhas externas. Jesus fala metaforicamente sobre a remoção da montanha pela fé comparando-a com uma dificuldade interna que diminui a chance de ajudar o próximo a se consertar com o Pai. A comparação com a montanha é em analogia a uma posição aquém em conexão à humanidade em Jesus. A situação do vale da sombra da morte está próxima implica dizer que a separação, ou a falta de seriedade em relação a Deus, que a conexão com a humanidade em Adão está perto. E é por isso que o mover de Deus através dos discípulos é falho.

Logo, enxergar a montanha como uma dificuldade interna é uma interpretação mais profunda da fala de Jesus. O interior é mais difícil de ser trabalhado que o exterior. Focar em fatores externos é o menor dos problemas. O que acontece é que o homem muitas vezes se baseia em contingências, mas antes, ele deve ter convicção e encarar com seriedade, responsabilidade e entendimento de que seu chamado é único e específico na Terra e que só ele é capaz de fazer aquilo para o qual foi chamado fazer.



2-      Poder-se-á fazer alguma coisa:

“Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam fazer nada.”

            Imagina a alegria de Jesus ao receber essa notícia do pai do menino que sofria com acessos de loucura que os seus discípulos não puderam fazer nada? O texto não explicita a entonação da resposta de Jesus, mas acredito não foi uma das melhores possíveis. Acredito que ele deve ter olhado para os discípulos, dado aquele belo suspiro, contado até dez e respondeu decepcionado. A incredulidade dos discípulos fez com que Jesus se desapontasse, pois eles não tinham confiança em quem era Deus e acabavam indo contra os propósitos dele.

            A tristeza de Jesus foi simplesmente pelo motivo dos seus discípulos ainda não terem a firmeza dos seus respectivos chamados e por consequência diminuírem a ação de Deus através das suas vidas.

Isso nos ensina que enquanto estamos displicentes para com o nosso chamado estamos deixando de realizá-lo. Muitas vezes queremos um profundo agir de Deus em nossas vidas, mas não nos entregamos profundamente à Ele. Assim que os discípulos de Jesus agiam naquele momento, não havia seriedade, não havia intimidade com Deus, por isso não conseguiram livrar o sofrimento do menino lunático.

           O menino sofria em algumas áreas de sua vida, tanto na área espiritual como na área física, sua saúde estava afetada pelo demônio que afligia sua vida. Jesus, livre de montanhas, livre de conflitos internos, de dúvidas a respeito de seu chamado; Jesus livre da humanidade em Adão pede ao seu Pai com quem tinha intimidade com toda a certeza de que ele é capaz de remover o sofrimento do menino. E assim, o sofrimento do garoto é levado embora através da vida de Jesus.

         Por isso Jesus responde aos discípulos que se estes tivessem fé poderiam confiar e pedir a remoção das suas montanhas, das suas falhas de caráter, das suas inconstâncias, das suas faltas de intimidade com Deus. Então a partir daí eles poderiam enfrentar tudo, não haveria nada que eles não pudessem enfrentar.

         Logo podemos concluir que a fé que remove montanhas é aquela que tira todas as dúvidas a respeito dos propósitos de Deus. Assim como Deus queria agir através dos discípulos para tirar o sofrimento do menino lunático, assim também Deus deseja agir através de mim e de você para consertar, para reparar alguém para que este volte a seu estado a qual foi criado para tal. Desse modo não existe nada que prevaleça contra nossa oração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário