Lembro-me
de uma chamada da extinta TVE, que deixou suas transmissões no de 2007. Aqui na
cidade onde moro, ela ficava sintonizada no canal 2. Pois bem, a chamada era
para um programa – que não lembro o nome é verdade – que tinha o objetivo de
apresentar música clássica para os espectadores. A chamada tinha a seguinte interrogativa
exclamativa narrada: “Quem disse que clássico não é popular?!”. Ao mesmo tempo
em que passavam imagens dos clássicos regionais de futebol mais conhecidos do
Brasil (Corinthians vs. Palmeiras; Flamengo vs. Vasco; Grêmio vs
Internacional).
Ora,
essa conexão não é magnífica? Os clássicos no futebol são realmente um
diferencial. Basta ouvir as entrevistas dos jogadores antes de um clássico.
Ouvirá: “Clássico é clássico!”, “O time não está em uma fase boa, mas nada como
um clássico para mudar essa fase ruim”, “ah... ninguém deseja perder um
clássico”, “Com certeza a pressão é maior em se tratando de um clássico”. O
clássico, no futebol, mexe com os envolvidos, motiva-os, estressa-os, revela uma
relação passional, instável. Se o time vai bem, torna-se adorado, se vai mal,
odiado.
Vamos
agora ao outro lado, vamos à música clássica. Na música, ela seria o oposto do
que representa um clássico no futebol. A música clássica, poucas vezes ou quase
nenhuma atinge o status de pop. A música clássica é impopular. Ela não é
conforme aos desejos, aos interesses da maioria. Apesar de toda a sua beleza,
de todo o seu feeling – para utilizar
a linguagem dos músicos.
A
música clássica parece falar pouco à maioria. E por quê? Por que ela assusta. A
música clássica é tipo um livro bem largo, com mais de mil páginas. Nada
convidativo. À primeira vista, assusta. Mas quem começa ler, gosta. E as mil
páginas passam tão rápido como um Corinthians vs. Palmeiras bem jogado.
Propus-me
a encarar esse livro de mais de mil páginas. Faz um tempo, é verdade, cobro-me
em escutar música clássica. Protelei bastante, mas no exato momento em que
escreve esse texto estou ouvindo... Bachianas
brasileiras número 05 for voice and 8 cellos (1938 and 1945) I Ária, Cantinela
do Heitor Villa-Lobos (música clássica de um brasileiro, isso mesmo! O Villa-Lobos
é brasileiro. Muita gente não sabe disso. Inclusive eu não sabia).
Escrevo
agora não como um especialista que sabe destrinchar toda uma sinfonia, mas
escrevo agora apenas para dizer que vale muito a pena parar para escutar um
clássico. E talvez se você é um especialista esteja até criticando o meu ritual
de escrever e escutar. Mas é que realmente a música clássica tem mexido comigo.
Perguntava
sempre por onde começar? Bach, Beethoven, Tchaikovsky? Ficava em dúvidas e por
falta de interesse não dava o simples passo de começar. Não tem um por qual
compositor, apenas tem um “comece”. Caso você nunca se interessou por música
clássica e é brasileiro, indico-te (coloque no youtube) bachianas brasileiras
No. 5. Simplesmente linda!
Aproveite a viagem, depois dos primeiros
minutos de susto, você acaba acostumando e deliciando-se em todo o sentimento
que um clássico pode fazer aflorar.
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