Mr. Jones (Richard Gere) é um homem impulsivo e fascinante, que atrai as pessoas com o seu encanto e a sua energia vital. No entanto, por vezes passa bruscamente desse estado de euforia para um enorme desespero. A sua psiquiatra, a Dra. Elizabeth Bowen (Lena Olin) está decidida a ajudá-lo. Mas antes que dê por isso, estará profundamente ligada a ele.
Bom, depois da sinopse oficial do filme, a história contada, como fora citada anteriormente, é a do personagem Mr. Jones (Richard Gere), que sofre de Transtorno Afetivo Bipolar. O TAB pode ser considerado uma perturbação afetiva que alterna de estados maníacos a estados depressivos. O Mr. Jones, de modo geral, é um homem bastante inteligente, culto, eloqüente. Quando se encontra na fase maníaca algumas características “recebem um ganho”; torna-se eufórico, encantador, galanteador, hiper-ativo. Consegue assim, conquistar muitas coisas ao seu redor; consegue um emprego e também sair com uma operadora de caixa de um banco; intromete-se na regência de uma peça de Beethoven, pois achou que a mesma deveria ser executada em allegro vivace(andamento mais rápido); vale lembrar também que na fase eufórica a sua confiança é tão grande que ele põe-se a conquistar uma mulher que estava na companhia de seu parceiro sem medo de possíveis conseqüências. Não podemos deixar de citar também uma vontade que o Mr. Jones sustenta durante todo o filme, que é a de voar (isso quando está na sua fase eufórica). Nota-se que nessa fase o personagem arrisca sua vida por diversas vezes. Porém, quando se encontra na fase depressiva, Mr. Jones parece ser outra pessoa; apático, com humor deprimido, parece abalado por uma situação de perda de um relacionamento amoroso. Nessa fase o personagem demonstra toda sua fragilidade, e a idéia de “super-homem” motivado, apaixonado pela vida cai por terra. Parece ser contraditório, e até mesmo pouco provável de que esse quadro possa acontecer na vida real. Mas não, tirando é claro o romantismo da sétima arte, uma pessoa que sofre com o Transtorno Afetivo Bipolar apresenta sim, esse padrão.
Quanto à personagem de Lena Olin, a Dra. Elizabeth Bowen, é apresentada como uma das melhores especialistas da região na qual está inserida; parece ser bastante centrada, encarando com muita seriedade a sua profissão. Mas encontra-se em um estado de vulnerabilidade emocional, pois está se divorciando. Ao encontrar-se com o Mr. Jones (em sua fase eufórica), descreve-o como um homem muito interessante. Essas contigências – ela, em um estado vulnerável-emocional, e ele, em sua fase eufórica do TAB - acabaram por facilitar o envolvimento dos dois. Que para a visão romântica da coisa, esse envolvimento é até legal; mas que para a visão proposta para essa análise, que é a de um olhar enquanto acadêmico de psicologia, não é aceitável.
O envolvimento dos dois personagens acaba por prejudicar o tratamento do paciente. Já que, como a Dra. Bowen deixou ser levada por seus sentimentos, acabou prejudicando a sua escuta enquanto psiquiatra do caso Jones. Sabemos que há, por muitas vezes, identificações, ligações terapeuta-cliente; e o terapeuta sabe que qualquer tipo de ligação (no sentido de não saber separar, de tomar partido por alguma experiência) com o cliente prejudica o tratamento em questão. A grande crítica ao filme é justamente a conduta inadequada que Elizabeth tem com o Mr. Jones. Ao envolver-se com o cliente a doutora tem uma perda significativa na eficiência das suas intervenções; motra-se bastante interessada e acaba sendo invasiva em relação à vida pessoal do Mr. Jones. Ela faz intervenções tendenciosas – em uma das sessões Elizabeth pergunta sobre Ellen (ex-amor de Mr.Jones) - e de pouco proveito para o paciente. No desenrolar da história o interesse amoroso aumenta enquanto que o interesse em tratar o transtorno do paciente parece diminuir; o que culmina na consumação da relação amorosa dos dois. Quebrando assim, o que seria “uma das maiores regras” que envolve a psicoterapia: envolver-se com um paciente.
Enquanto espectadores de um romance, torcemos para o “típico final feliz” existir, porém ao analisarmos com o olhar da ética profissional torcemos para que Elizabeth consiga resistir aos encantos do Mr. Jones, manter-se firme no tratamento e conseguir a estabilidade do caso. Um final que também seria feliz e se encaixaria melhor na realidade em que estamos inseridos.
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