terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Vazio Existencial Cristão

            Em tempos onde a igreja busca ser conhecida e famosa, o cristão tende a buscar a satisfação de si e esquecer-se do próximo. A busca pelo eu, pelo ego, pela sua benção é que tem regido a maior parte do cenário gospel brasileiro. Com a busca pela realização dos seus próprios sonhos o cristão acaba caindo em um vazio existencial.
                    A proposta para o plano do Eterno que as igrejas evangélicas têm pregado muitas vezes é apenas o da salvação. Uma pessoa “se converte” realizando uma oração de confissão e declarando publicamente que Jesus é o seu único e suficiente salvador. Pronto! O irmão está salvo e a partir de agora ele passa a frequentar um clube; vai todos os domingos, recebe uma palavra de conforto, recebe a sua benção, é ungido com óleo para prosperar. Esse é o plano. Para por aí. As igrejas têm esquecido a grande comissão que é levar, como proposto no pacto de Lausanne: o evangelho todo, para todo o homem e o homem todo.
             Deus tem segredos da aliança que fez com cada um que tem o encontro pessoal e transformador com Ele por meio de Jesus Cristo. Como está escrito: “O Senhor confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer os segredos da sua aliança” (Sl 25:14). O Eterno tem condições, tem um caminho que traçou para cada pessoa que deseja tê-lo como a sua verdade. Em outra versão bíblica para o mesmo Salmo a tradução é essa: “O Senhor é amigo daqueles que o temem e lhes ensina as condições da aliança que fez com eles”. O incrível é que Deus escreveu o caminho antes mesmo de nos achegarmos a Ele. Assim como nos tempos de Moisés, Deus escreveu as tábuas da lei antes do libertador do povo do Egito ir até Ele e buscá-las. Veja o que o Eterno diz a Moisés em Êxodo 24:12: “Suba o monte, venha até mim, e fique aqui; e lhe darei as tábuas de pedra com a lei e os mandamentos que escrevi para a instrução do povo”. Grifei o verbo escrever a propósito para chamar a atenção para o tempo verbal que ele está escrito no texto; o tempo é o pretérito perfeito do indicativo. Deus já havia escrito a lei antes mesmo do povo conhecê-la! Lei tem o sentido de norte, de guiar o povo pelo caminho, pela condição que Deus tinha para com eles. O Eterno tem um caminho, um chamado que cada pessoa tem que seguir. Ele não chama uma pessoa para que ela apenas reze a oração de confissão e fique sentada na sua cadeira todos os domingos. A igreja é chamada para fora!
               A palavra no grego para a primeira vez que Jesus utiliza o termo igreja no novo testamento é ekklesia que significa chamados para fora. Um dos significados para o termo igreja é casa de Deus; não é um edifício material, mas o santuário e a habitação do Senhor como dizem nas escrituras: “No qual todo edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito.” (Ef 2:21-22); “Vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). Cada um é casa de Deus, é morada dEle. Se eu e você somos casa de Deus, Jesus ao usar o termo igreja, quis chamar cada pessoa para fora de si. O problema da utilização da palavra Ekklesia é que ela é usada em uma perspectiva de igreja como organismo, como um corpo composto de membros vivos. E a ideia é que esse corpo saia da estrutura física e pregue o evangelho a toda criatura. Mas antes, Jesus veio com a proposta de transformação do ser; agora não basta não fazer, o que se tem é não querer fazer. Se eu quiser fazer, mesmo não realizando o ato, já pequei. A proposta de Jesus é mais profunda. É a transformação do ser. E por isso quando ele utiliza a palavra ekklesia, o Mestre significa igreja enquanto indivíduo, ele chama o ser para sair de si. Jesus não prega a busca pelo ego e pela satisfação de si próprio, mas pelo contrário, ele chama cada um, enquanto casa de Deus, para fora; o chamado dele é para negar a si mesmo.  
                   Um bom exemplo para ilustrar o chamado de Jesus para que cada um saia de si é a parábola do bom samaritano, onde este ajuda o próximo em todas as suas circunstâncias. Antes da igreja (como organismo) sair de suas estruturas físicas e praticar o evangelho fora delas, é necessário que cada um individualmente saia de si e busque fora realizar as condições da aliança de Deus. Paulo, o apóstolo, encontrou o segredo de Deus para ele: “Por essa razão eu oro a Deus, eu, Paulo, que estou preso por causa de Cristo para o bem de vocês, os não judeus. Com certeza vocês já sabem que Deus, por causa da sua graça, me deu esse trabalho para o bem de vocês. Deus me revelou o seu plano secreto e fez com que eu o conhecesse.” (Ef 3:1-4). Paulo sofreu quando resolveu realizar o plano secreto que Deus tinha para ele que era levar o evangelho até os gentios, até os não-judeus. Paulo saiu de si, não ficou atrás da sua benção, pelo contrário, negou-se a si mesmo e doou-se a causa do evangelho. O apóstolo dos gentios entendeu o termo ekklesia empregado por Jesus e respondeu ao chamado de ir para fora do seu eu.
                   Logo, o cristão não é apenas chamado pra fazer a oração de confissão de fé para depois ficar sentado na cadeira do templo buscando a sua benção. O chamado de Jesus é para fora; para sair de si. Viktor Frankl, fundador da Logoterapia, diz que o homem só se realiza quando encontra uma causa pela qual possa lutar ou uma pessoa para amar. A satisfação é fora, é no outro. E o chamado de Jesus não é muito diferente, o Mestre chama para que cada um saia de si, para que cada um deixe a busca pelo seu prazer e pela busca da sua benção e leve o evangelho todo, para todo o homem e o homem todo.
           A existência cristã é para fora. Quando um cristão não entende esse chamado, ele acaba em um estado de vazio existencial. E é aonde grande parte da igreja se encontra hoje. Um estado da busca pela sua satisfação. O discurso em vez de ser “Venha e seja benção!”, na verdade é “Venha e receba a benção!”. O vazio existencial só pode ser superado em Deus.
          Ora, o chamado de Jesus para quem quiser segui-lo é para sair do seu sistema fechado e viver para ele. Pensar em uma existência onde isso não é praticado é pensar que existe a presença do vazio existencial. A existência é para ser desvelada a cada instante, a todo o momento tem-se a oportunidade de praticar o chamado de Jesus.  O chamado não é apenas para a confissão de fé, o chamado é para praticar o ide e dar frutos. O cristão que não busca conhecer os segredos que Deus Pai tem para ele com certeza se encontrará em um estado de vazio existencial.

                  O vácuo da existência só é preenchido em Deus. O propósito do cristão não é viver no céu, mas trazer o reino de Deus para a Terra. O céu é aqui. O Reino de Deus está próximo. O significado de próximo aqui é acessível e não, como muitos pensam, uma ideia de cronologia e dessa finitude cronológica. Deus tem condições para te guiar. Jesus te chama para praticar a negação de si. E a existência te pergunta a todo o momento o que tens feito. Não confesse apenas, mas doe-se também e só assim estará livre do vazio da existência.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Evangelho como causa

               Aprendemos desde cedo que o significado da palavra evangelho é boas novas. Boas novas da salvação e do plano reconciliador de Deus Pai com os seus filhos. Porém, pós-reconciliação com o Eterno, o que Ele deseja de nós? O evangelho é mais que o simples ato de fazer uma oração aceitando a Jesus como seu único salvador; ele é um caminhar. O evangelho é uma causa.
Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’. "Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" (Lucas 10:30-36)
                Temos a parábola do bom samaritano citada acima para ilustrar a causa do evangelho. Jesus conta essa parábola após uma longa viagem onde ia em direção a Jerusalém, passando por Samaria. Este era o caminho mais longo. Vale ressaltar também que Samaria era um povo odiado pelos judeus e vice-versa, existia uma rixa histórica entre esses dois povos. Antes de Jesus e seus discípulos partirem em viagem, o Mestre envia Tiago e João para encontrar alguém para hospedá-los em Samaria, mas não encontraram ninguém, pois o povo de lá percebeu que eles peregrinavam para Jerusalém e por conta da discórdia entre os povos, os samaritanos fecharam as suas portas.
               Jesus, após longa viagem, com sede, fome e cansado, chega a Jerusalém e é recepcionado por um doutor da lei que o coloca à prova perguntando o que ele deveria fazer para herdar a vida eterna. O Mestre responde com outra pergunta: “O que está escrito na lei? Como você a lê?”. O doutor, muito sábio, resumiu as leis de Moisés em duas: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o coração, de toda sua alma, de todas suas forças, e de todo seu entendimento.” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
                Jesus concorda com a resposta do doutor, porém este querendo se justificar pergunta novamente: “E quem é o meu próximo?”. O Mestre, com toda sua serenidade conta a parábola do bom samaritano.

                O interessante da parábola é que a figura principal, o bom moço, é um samaritano. Relembremos: Jesus passara por Samaria em sua longa viagem, onde ninguém quis hospedá-lo e conta a um judeu que o bom moço é o inimigo do seu povo, um samaritano. O Mestre dá um tapa na cara, não apenas do doutor da lei, mas como também dos seus discípulos que estavam irados pois presenciaram a não-hospitalidade do povo de Samaria.
                A parábola contada por Jesus traz três filosofias de vida. A primeira é: “o que é seu é meu”, representada pelos assaltantes, são pessoas que vivem para usurpar, para cobiçar o que o outro tem. A segunda é: “o que é seu é seu”, representada pelos religiosos, o sacerdote e o levita, essa é a prática da indiferença, cada um que cuide da sua própria vida. E a terceira filosofia é: “o que é meu é seu”, representada pelo bom samaritano, esse tipo de filosofia diz a respeito do dar, compartilhar, abençoar; esse tipo de pessoa não vive para si mesma, não está fechada em si própria, não está ocupada apenas com o seu próprio eu.
                O homem não é um sistema fechado em si, ele não busca apenas a satisfação de suas próprias necessidades. O homem tem a capacidade da autotranscendência, onde nela, ele consegue sair de si mesmo e buscar fora de si a satisfação. O homem só se realiza a partir do momento em que se doa a uma causa ou ama alguém. O homem nasce para realizar algo de concreto no mundo.
                Tem-se o exemplo de Paulo, o apóstolo, quando ele diz: Por essa razão eu oro a Deus, eu, Paulo, que estou preso por causa de Cristo Jesus para o bem de vocês, os não judeus. Com certeza vocês já sabem que Deus, por causa da sua graça, me deu esse trabalho para o bem de vocês. Deus me revelou o seu plano secreto e fez com que eu o conhecesse. (Eu escrevi isso em poucas palavras, e, se vocês lerem o que escrevi, poderão saber como entendo o segredo de Cristo.) No passado esse segredo não foi contado aos seres humanos, mas agora, por meio do seu Espírito, Deus o revelou aos seus santos apóstolos e profetas. O segredo é este: por meio do evangelho os não judeus participam com os judeus das bênçãos divinas. Eles são membros do mesmo corpo e participam da promessa que Deus fez por meio de Cristo Jesus. Graças ao dom que Deus, na sua bondade, me deu, e, pela ação do seu poder, eu fui colocado como servo do evangelho. Eu sou menos do que o menor de todos os que pertencem a Deus, mas mesmo assim ele me deu este privilégio de anunciar aos não judeus a boa notícia das imensas riquezas de Cristo. E também me deu o privilégio de fazer com que todos vejam como se realiza o plano secreto de Deus. Deus, que criou tudo, escondeu esse segredo durante os tempos passados. E isso aconteceu a fim de que agora, por meio da Igreja, as autoridades e os poderes angélicos do mundo celestial conheçam a sabedoria de Deus em todas as suas diferentes formas. Deus fez isso de acordo com o seu propósito eterno, que ele realizou por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor. Por estarmos unidos com Cristo, por meio da nossa fé nele, nós temos a coragem de nos apresentarmos na presença de Deus com toda a confiança. Portanto, eu lhes peço que não desanimem por causa dos meus sofrimentos por vocês, pois eles lhes trazem benefício.” (Efésios 3: 1-13)
                Paulo, mesmo preso e enfrentando batalhas e sofrimentos, lutou pela causa do evangelho. Ele entendeu que tinha que sair do seu sistema fechado, sair de si e buscar fora dele a razão para o qual foi chamado. Ele descobriu as condições da aliança que Deus tinha para com ele, e o caminho foi o de amar os gentios, de amar o povo não judeu.
                Assim como Paulo, o bom samaritano também saiu de si e buscou fora dele realizar o mandamento de amar o próximo e entendeu o propósito do evangelho. Ajudar o outro, principalmente na hora em que ele estiver necessitado, estiver miserável, à beira do caminho. O evangelho é esta causa. A causa de ajudar o próximo, a causa de sair de si próprio, abandonar as amarras do egoísmo, do egocentrismo e decidir amar - sem seleções – o próximo como a si mesmo.  A causa do evangelho é resgatar o homem e o assistir em todas as suas condições humanas, em todas as suas circunstâncias. Esse é o evangelho como causa. Essa é a causa do evangelho. 

                

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Retrospectiva 2013

                O ano de 2013 começou com a promessa de produzir. Produzir algo relacionado a alguma coisa que eu faço, no caso a psicologia. Antes, era música, porém esta ficou de fundo no estabelecimento das metas para o ano que se encerra hoje.
                Pelas circunstâncias da vida, a psicologia saiu do fundo e veio para figura. Iniciei o ano planejando estagiar dentro da área de minha formação acadêmica. E, para minha surpresa, a oportunidade veio logo no terceiro dia do ano. Iniciei e nada sabia. Aprendi e aprendo até hoje. Comecei a produzir. Senti-me útil! Criei confiança, comecei acreditar mais no meu potencial. Amadureci dentro da psicologia o que não amadurecera nos outros três anos e meio de curso que já haviam passado por mim. Participei de mesa redonda, apresentei trabalhos com mais segurança, estou em fase final de um artigo científico.
                E, pelas circunstâncias da vida, resgatei a música que tinha ficado um pouco esquecida na primeira metade do ano. Participei da produção de mais uma obra. Relembrei como é divertido fazer um rock’n’roll! Além de ter ajudado em um musical (o que foi aquilo?!).
                Emocionante foi participar de algumas entrevistas onde, uma pessoa se apresentava, com toda sua história de vida, carregada de sonhos e projetos. E, se desmanchando ali, na minha frente. Caindo em lágrimas. Agradecendo. E eu? Tentando segurar o choro, e guardando na minha memória  aquele momento breve, porém eterno.
                Emocionante foi participar de um musical onde a causa do Eterno foi falada, cantada, teatrada e musicada. Cada esforço, cada ensaio realizado no sacrifício do físico. Cada momento de comunhão com os amigos, participando desse espetáculo. E, na hora do “vamos ver”, a emoção, o feeling, a satisfação da possibilidade de se comunicar através da música. Que linguagem é essa?! A música me toca quando não toco e toca mais ainda quando toco. Pois quando toco, sei que o que toco vem do meu coração.

                Termino o ano com a certeza de que Facio quid placeo – faço o que gosto – e me perguntando qual será o verbo dos próximos doze meses.