sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Evangelho como causa

               Aprendemos desde cedo que o significado da palavra evangelho é boas novas. Boas novas da salvação e do plano reconciliador de Deus Pai com os seus filhos. Porém, pós-reconciliação com o Eterno, o que Ele deseja de nós? O evangelho é mais que o simples ato de fazer uma oração aceitando a Jesus como seu único salvador; ele é um caminhar. O evangelho é uma causa.
Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’. "Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" (Lucas 10:30-36)
                Temos a parábola do bom samaritano citada acima para ilustrar a causa do evangelho. Jesus conta essa parábola após uma longa viagem onde ia em direção a Jerusalém, passando por Samaria. Este era o caminho mais longo. Vale ressaltar também que Samaria era um povo odiado pelos judeus e vice-versa, existia uma rixa histórica entre esses dois povos. Antes de Jesus e seus discípulos partirem em viagem, o Mestre envia Tiago e João para encontrar alguém para hospedá-los em Samaria, mas não encontraram ninguém, pois o povo de lá percebeu que eles peregrinavam para Jerusalém e por conta da discórdia entre os povos, os samaritanos fecharam as suas portas.
               Jesus, após longa viagem, com sede, fome e cansado, chega a Jerusalém e é recepcionado por um doutor da lei que o coloca à prova perguntando o que ele deveria fazer para herdar a vida eterna. O Mestre responde com outra pergunta: “O que está escrito na lei? Como você a lê?”. O doutor, muito sábio, resumiu as leis de Moisés em duas: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o coração, de toda sua alma, de todas suas forças, e de todo seu entendimento.” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
                Jesus concorda com a resposta do doutor, porém este querendo se justificar pergunta novamente: “E quem é o meu próximo?”. O Mestre, com toda sua serenidade conta a parábola do bom samaritano.

                O interessante da parábola é que a figura principal, o bom moço, é um samaritano. Relembremos: Jesus passara por Samaria em sua longa viagem, onde ninguém quis hospedá-lo e conta a um judeu que o bom moço é o inimigo do seu povo, um samaritano. O Mestre dá um tapa na cara, não apenas do doutor da lei, mas como também dos seus discípulos que estavam irados pois presenciaram a não-hospitalidade do povo de Samaria.
                A parábola contada por Jesus traz três filosofias de vida. A primeira é: “o que é seu é meu”, representada pelos assaltantes, são pessoas que vivem para usurpar, para cobiçar o que o outro tem. A segunda é: “o que é seu é seu”, representada pelos religiosos, o sacerdote e o levita, essa é a prática da indiferença, cada um que cuide da sua própria vida. E a terceira filosofia é: “o que é meu é seu”, representada pelo bom samaritano, esse tipo de filosofia diz a respeito do dar, compartilhar, abençoar; esse tipo de pessoa não vive para si mesma, não está fechada em si própria, não está ocupada apenas com o seu próprio eu.
                O homem não é um sistema fechado em si, ele não busca apenas a satisfação de suas próprias necessidades. O homem tem a capacidade da autotranscendência, onde nela, ele consegue sair de si mesmo e buscar fora de si a satisfação. O homem só se realiza a partir do momento em que se doa a uma causa ou ama alguém. O homem nasce para realizar algo de concreto no mundo.
                Tem-se o exemplo de Paulo, o apóstolo, quando ele diz: Por essa razão eu oro a Deus, eu, Paulo, que estou preso por causa de Cristo Jesus para o bem de vocês, os não judeus. Com certeza vocês já sabem que Deus, por causa da sua graça, me deu esse trabalho para o bem de vocês. Deus me revelou o seu plano secreto e fez com que eu o conhecesse. (Eu escrevi isso em poucas palavras, e, se vocês lerem o que escrevi, poderão saber como entendo o segredo de Cristo.) No passado esse segredo não foi contado aos seres humanos, mas agora, por meio do seu Espírito, Deus o revelou aos seus santos apóstolos e profetas. O segredo é este: por meio do evangelho os não judeus participam com os judeus das bênçãos divinas. Eles são membros do mesmo corpo e participam da promessa que Deus fez por meio de Cristo Jesus. Graças ao dom que Deus, na sua bondade, me deu, e, pela ação do seu poder, eu fui colocado como servo do evangelho. Eu sou menos do que o menor de todos os que pertencem a Deus, mas mesmo assim ele me deu este privilégio de anunciar aos não judeus a boa notícia das imensas riquezas de Cristo. E também me deu o privilégio de fazer com que todos vejam como se realiza o plano secreto de Deus. Deus, que criou tudo, escondeu esse segredo durante os tempos passados. E isso aconteceu a fim de que agora, por meio da Igreja, as autoridades e os poderes angélicos do mundo celestial conheçam a sabedoria de Deus em todas as suas diferentes formas. Deus fez isso de acordo com o seu propósito eterno, que ele realizou por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor. Por estarmos unidos com Cristo, por meio da nossa fé nele, nós temos a coragem de nos apresentarmos na presença de Deus com toda a confiança. Portanto, eu lhes peço que não desanimem por causa dos meus sofrimentos por vocês, pois eles lhes trazem benefício.” (Efésios 3: 1-13)
                Paulo, mesmo preso e enfrentando batalhas e sofrimentos, lutou pela causa do evangelho. Ele entendeu que tinha que sair do seu sistema fechado, sair de si e buscar fora dele a razão para o qual foi chamado. Ele descobriu as condições da aliança que Deus tinha para com ele, e o caminho foi o de amar os gentios, de amar o povo não judeu.
                Assim como Paulo, o bom samaritano também saiu de si e buscou fora dele realizar o mandamento de amar o próximo e entendeu o propósito do evangelho. Ajudar o outro, principalmente na hora em que ele estiver necessitado, estiver miserável, à beira do caminho. O evangelho é esta causa. A causa de ajudar o próximo, a causa de sair de si próprio, abandonar as amarras do egoísmo, do egocentrismo e decidir amar - sem seleções – o próximo como a si mesmo.  A causa do evangelho é resgatar o homem e o assistir em todas as suas condições humanas, em todas as suas circunstâncias. Esse é o evangelho como causa. Essa é a causa do evangelho. 

                

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