Aprendemos desde
cedo que o significado da palavra evangelho é boas novas. Boas novas da
salvação e do plano reconciliador de Deus Pai com os seus filhos. Porém,
pós-reconciliação com o Eterno, o que Ele deseja de nós? O evangelho é mais que
o simples ato de fazer uma oração aceitando a Jesus como seu único salvador; ele
é um caminhar. O evangelho é uma causa.
Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém
para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas,
espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um
sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o
viu, passou pelo outro lado. Mas um
samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o
viu, teve piedade dele. Aproximou-se,
enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre
o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e
disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você
tiver’. "Qual destes três você acha
que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" (Lucas
10:30-36)
Temos a parábola do bom
samaritano citada acima para ilustrar a causa do evangelho. Jesus conta essa
parábola após uma longa viagem onde ia em direção a Jerusalém, passando por
Samaria. Este era o caminho mais longo. Vale ressaltar também que Samaria era
um povo odiado pelos judeus e vice-versa, existia uma rixa histórica entre
esses dois povos. Antes de Jesus e seus discípulos partirem em viagem, o Mestre
envia Tiago e João para encontrar alguém para hospedá-los em Samaria, mas não
encontraram ninguém, pois o povo de lá percebeu que eles peregrinavam para
Jerusalém e por conta da discórdia entre os povos, os samaritanos fecharam as
suas portas.
Jesus, após longa viagem, com
sede, fome e cansado, chega a Jerusalém e é recepcionado por um doutor da lei
que o coloca à prova perguntando o que ele deveria fazer para herdar a vida
eterna. O Mestre responde com outra pergunta: “O que está escrito na lei? Como você a lê?”. O doutor, muito
sábio, resumiu as leis de Moisés em duas: “Ame
o Senhor, o seu Deus de todo o coração, de toda sua alma, de todas suas forças,
e de todo seu entendimento.” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
Jesus concorda com a resposta do
doutor, porém este querendo se justificar pergunta novamente: “E quem é o meu próximo?”. O Mestre, com
toda sua serenidade conta a parábola do bom samaritano.
O interessante da parábola é que
a figura principal, o bom moço, é um samaritano. Relembremos: Jesus passara por
Samaria em sua longa viagem, onde ninguém quis hospedá-lo e conta a um judeu
que o bom moço é o inimigo do seu povo, um samaritano. O Mestre dá um tapa na
cara, não apenas do doutor da lei, mas como também dos seus discípulos que
estavam irados pois presenciaram a não-hospitalidade do povo de Samaria.
A parábola contada por Jesus
traz três filosofias de vida. A primeira é: “o que é seu é meu”, representada
pelos assaltantes, são pessoas que vivem para usurpar, para cobiçar o que o
outro tem. A segunda é: “o que é seu é seu”, representada pelos religiosos, o
sacerdote e o levita, essa é a prática da indiferença, cada um que cuide da sua
própria vida. E a terceira filosofia é: “o que é meu é seu”, representada pelo
bom samaritano, esse tipo de filosofia diz a respeito do dar, compartilhar,
abençoar; esse tipo de pessoa não vive para si mesma, não está fechada em si
própria, não está ocupada apenas com o seu próprio eu.
O homem não é um sistema fechado
em si, ele não busca apenas a satisfação de suas próprias necessidades. O homem
tem a capacidade da autotranscendência, onde nela, ele consegue sair de si
mesmo e buscar fora de si a satisfação. O homem só se realiza a partir do
momento em que se doa a uma causa ou ama alguém. O homem nasce para realizar
algo de concreto no mundo.
Tem-se o exemplo de Paulo, o
apóstolo, quando ele diz: “Por essa razão eu oro a Deus, eu,
Paulo, que estou preso por causa de Cristo Jesus para o bem de vocês, os não
judeus. Com certeza vocês já sabem que Deus, por causa da sua graça, me
deu esse trabalho para o bem de vocês. Deus me revelou o seu plano secreto
e fez com que eu o conhecesse. (Eu escrevi isso em poucas palavras, e, se vocês lerem o que escrevi,
poderão saber como entendo o segredo de Cristo.) No passado esse segredo
não foi contado aos seres humanos, mas agora, por meio do seu Espírito, Deus o
revelou aos seus santos apóstolos e profetas. O segredo é este: por meio
do evangelho os não judeus participam com os judeus das bênçãos divinas. Eles
são membros do mesmo corpo e participam da promessa que Deus fez por meio de
Cristo Jesus. Graças ao dom que Deus, na sua bondade, me deu, e, pela ação do
seu poder, eu fui colocado como servo do evangelho. Eu sou menos do que o
menor de todos os que pertencem a Deus, mas mesmo assim ele me deu este
privilégio de anunciar aos não judeus a boa notícia das imensas riquezas de
Cristo. E também me deu o privilégio de fazer com que todos vejam como se
realiza o plano secreto de Deus. Deus, que criou tudo, escondeu esse segredo
durante os tempos passados. E isso aconteceu a fim de que agora, por meio
da Igreja, as autoridades e os poderes angélicos do mundo celestial conheçam a
sabedoria de Deus em todas as suas diferentes formas. Deus fez isso de
acordo com o seu propósito eterno, que ele realizou por meio de Cristo Jesus, o
nosso Senhor. Por estarmos unidos com Cristo, por meio da nossa fé nele,
nós temos a coragem de nos apresentarmos na presença de Deus com toda a
confiança. Portanto, eu lhes peço que não desanimem por causa dos meus
sofrimentos por vocês, pois eles lhes trazem benefício.” (Efésios 3: 1-13)
Paulo, mesmo preso e
enfrentando batalhas e sofrimentos, lutou pela causa do evangelho. Ele entendeu
que tinha que sair do seu sistema fechado, sair de si e buscar fora dele a
razão para o qual foi chamado. Ele descobriu as condições da aliança que Deus
tinha para com ele, e o caminho foi o de amar os gentios, de amar o povo não
judeu.
Assim como Paulo, o bom samaritano também saiu de si
e buscou fora dele realizar o mandamento de amar o próximo e entendeu o
propósito do evangelho. Ajudar o outro, principalmente na hora em que ele
estiver necessitado, estiver miserável, à beira do caminho. O evangelho é esta
causa. A causa de ajudar o próximo, a causa de sair de si próprio, abandonar as
amarras do egoísmo, do egocentrismo e decidir amar - sem seleções – o próximo
como a si mesmo. A causa do
evangelho é resgatar o homem e o assistir em todas as suas condições humanas,
em todas as suas circunstâncias. Esse é o evangelho como causa. Essa é a causa
do evangelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário