terça-feira, 7 de julho de 2015

Adoração integral

O fenômeno religioso divide-se em duas partes, prevalecendo uma visão dualista: o sagrado e o profano.  Émile Durkheim observa que: “existe religião tão logo o sagrado se distingue do profano.” Nesse sentido, considera-se sagrado tudo aquilo que está ligado à religião, magia, mitos, crenças. Profano é aquilo que atribuímos como sinônimo de mundano, cotidiano ou rotineiro. Sagrado pertence a Deus. Profano pertence ao mundo. O homem religioso, para entrar em contato com o divino, retalha a vida no mundo profano – gestos, pessoas, espaços e tempos.
            
Na perspectiva da tradição cristã, segundo o Ed René Kivitz, “o sagrado é aquilo que expressa a presença divina. É compatível com o caráter de Deus e tem haver com os propósitos desse Deus que está em missão. Comer pizza é sagrado, desde que esse comer pizza esteja embutido nos propósitos, no caráter do Deus a quem servirmos.  O sagrado se manifesta para além do ambiente religioso e que no mundo, que chamamos de secular há muita expressão do sagrado.”

O importante a ser ressaltado é que o conceito cristão de sagrado extrapola o que é meramente religioso. O sagrado não são apenas símbolos, pessoas, coisas, mas o sagrado é toda a criação divina. Toda a criação divina foi feita para cultuar ou glorificar o Eterno. O Ariovaldo Ramos diz: “Se alguém faz alguma coisa e o que ele faz não pode oferecer isso como culto, ele profanou o universo. Por que o universo foi feito para culto de Deus.”

A criação é boa, como está escrito em Gn 1: 12,21,25. Todas as coisas, nos céus e sobre a terra foram criadas nele (Cl 1:16). Até o trabalho em 1 Tessalonicenses, capítulo 4, versos 11 e 12, está inserido em assuntos espirituais.

Conclui-se que, parafraseando o apóstolo Paulo em 1 Co 10:31: quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória da Deus.  Há uma superação do dualismo sagrado e profano que muitas vezes está inserido nos discursos das igrejas cristãs.

Entendido isso, partimos para o conceito de adoração, a saber, render culto à uma divindade. Adoração, já foi confundida com conceitos românticos, e em se tratando de Brasil em meados dos anos 90 e 2000. Adoração, na época – e existe esse ranço até os dias de hoje – era conceituada como aquele momento de êxtase amparado por alguma expressão artística, geralmente a música ou a dança.



Após isso, houve uma tentativa a superação desse conceito, agora adoração não era mais o momento de êxtase amparado por expressões artísticas, mas sim um estilo de vida. Porém essa perspectiva sobre estilo de vida ampliou o conceito de adoração com o ranço do dualismo sagrado e profano. O estilo de vida é conceituado equiparando-se com a “oração incessante”, ou seja, vou à faculdade, então no caminho estou em “espírito de oração”, me conectando com Deus de alguma forma, porém dando margem a perda dessa conexão em algum momento do espaço/tempo.  Nesse contexto existe um reducionismo do conceito da adoração.

“A dicotomia sagrado/secular valoriza uma adoração estética, voltada em manifestações vocais, corporais e rítmicas; ligada a um espaço físico. Hoje muito se fala em louvor e adoração, porém ligada a uma estética, uma inovadora fórmula. Biblicamente falando, a adoração não está presa a música ou outras manifestações vocais e rítmicas. Adoração é um estilo de vida, é mais do que música, culto e instrumentos musicais, é uma forma de viver, em todas as áreas da vida. Enquanto se adora com instrumentos, se deixa de louvar com testemunho público no pagamento de imposto. Essa dicotomia leva a drásticas consequências na vida cristã. (Gutierres Siqueira)

É preciso ultrapassar esses antigos paradigmas sobre adoração e levantar outro entendendo que todas as coisas foram feitas para a glória de Deus; entendendo que cada pessoa é um sacerdote (1 Pe 2:9); entendendo que somos sacrifícios vivos (Rm 12:1). Logo não há como separar alguma atividade sem que essa atividade seja adoração a Deus. É impossível eu ser sacerdote real apenas quando estou cercado pelos símbolos ou locais religiosos. É impossível pensar em uma adoração que em algum momento do espaço/tempo possa ser desconectada do Eterno.  A adoração torna-se integral quando entendemos essa perspectiva. Rendemos culto a Deus em todo o momento, fazendo qualquer coisa, seja intrapessoal ou interpessoal.

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