domingo, 18 de setembro de 2016

A morte, crentes sanguinários e ética paradoxal

Frase: Tenho 54 anos, e minha geração é das canções, da poesia na música. Na minha formação afetiva, o romantismo está gravado. (Domingos Montagner)

Na semana que passou houve um incidente que comoveu o país que foi a morte do ator Domingos Montagner. Aconteceu de uma maneira abrupta, repentina; e, talvez por isso, o choque tão grande. Toda morte é trágica, sem dúvida. Porém, quando acontece de uma maneira inesperada, através de meios que, naturalmente, não são comuns a esse tipo de acontecimento, como foi o ato de um banhar de rio, a comoção é maior.

Alguns artistas já nos deixaram assim, de maneira inesperada. E o que mais me assusta muitas vezes não é a maneira em que eles deixam essa vida. Mas o que me assusta mesmo é a interpretação dos crentes em relação à esses acontecimentos.

A vida é frágil, ela é um sopro. Todo ser humano, nasce e morre. Todo. Tanto o ímpio quanto o crente. Isso é o resumo da vida, posso dizer. Meu amigo, não ache que a morte do Domingos foi por conta de que a rede globo tem pacto com o demônio ou algo do tipo.

O que aconteceu foi uma fatalidade, neste ano apenas os meses de fevereiro e de julho não registraram nenhum caso de morte no rio São Francisco. É um rio perigoso, os oceanógrafos já diziam isso, talvez por nossa ignorância não conhecíamos sobre o assunto. E por mais ignorância ainda cristãos proliferam o discurso do castigo divino.



Antes de qualquer conclusão, baseada em uma crença religiosa ou em discursos de pessoas que detém a retórica do religioso, é preciso analisar. Eu creio sim em coisas espirituais, mas é preciso olhar com a lente adequada. Quem foi que pecou? Quem foi o culpado pela morte dele? O seu pecado? O pecado da globo?

Parece-me que os cristãos tem sede do sangue daqueles que não acreditam na obra do Cristo. Parece que ficamos (e incluo-me nessa categoria, pois também sou cristão) esperando um vacilo para esbravejar: “Eu disse! Sabia que esse pecado ia trazer consequências! Eu avisei!”.

Até quando vamos agir assim? Está na hora de crescer. Cresça eu, cresça você. Não caia nesses discursos sanguinários, porém procure agir como Jesus agiu. O tempo é chegado de revermos a nossa ética, parece que fazemos o contrário do que Cristo nos ensinou. Em vez de amar viúva e cuidar dos órfãos, esbravejamos que o seu amado esposo e pai, morreu em função de macumba.

E, como diz Salomão, é melhor ir a uma casa em luto do que ir a uma casa em festa, porque esta – a morte – é o final de todo ser humano e é nela que os que ficam tem a possibilidade de refletir. Inclusive sobre a ética cristã, que é tão frágil e paradoxal nos nossos dias.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Quem disse que clássico não é popular?

Lembro-me de uma chamada da extinta TVE, que deixou suas transmissões no de 2007. Aqui na cidade onde moro, ela ficava sintonizada no canal 2. Pois bem, a chamada era para um programa – que não lembro o nome é verdade – que tinha o objetivo de apresentar música clássica para os espectadores. A chamada tinha a seguinte interrogativa exclamativa narrada: “Quem disse que clássico não é popular?!”. Ao mesmo tempo em que passavam imagens dos clássicos regionais de futebol mais conhecidos do Brasil (Corinthians vs. Palmeiras; Flamengo vs. Vasco; Grêmio vs Internacional).

Ora, essa conexão não é magnífica? Os clássicos no futebol são realmente um diferencial. Basta ouvir as entrevistas dos jogadores antes de um clássico. Ouvirá: “Clássico é clássico!”, “O time não está em uma fase boa, mas nada como um clássico para mudar essa fase ruim”, “ah... ninguém deseja perder um clássico”, “Com certeza a pressão é maior em se tratando de um clássico”. O clássico, no futebol, mexe com os envolvidos, motiva-os, estressa-os, revela uma relação passional, instável. Se o time vai bem, torna-se adorado, se vai mal, odiado.

Vamos agora ao outro lado, vamos à música clássica. Na música, ela seria o oposto do que representa um clássico no futebol. A música clássica, poucas vezes ou quase nenhuma atinge o status de pop. A música clássica é impopular. Ela não é conforme aos desejos, aos interesses da maioria. Apesar de toda a sua beleza, de todo o seu feeling – para utilizar a linguagem dos músicos.

A música clássica parece falar pouco à maioria. E por quê? Por que ela assusta. A música clássica é tipo um livro bem largo, com mais de mil páginas. Nada convidativo. À primeira vista, assusta. Mas quem começa ler, gosta. E as mil páginas passam tão rápido como um Corinthians vs. Palmeiras bem jogado.

Propus-me a encarar esse livro de mais de mil páginas. Faz um tempo, é verdade, cobro-me em escutar música clássica. Protelei bastante, mas no exato momento em que escreve esse texto estou ouvindo... Bachianas brasileiras número 05 for voice and 8 cellos (1938 and 1945) I Ária, Cantinela do Heitor Villa-Lobos (música clássica de um brasileiro, isso mesmo! O Villa-Lobos é brasileiro. Muita gente não sabe disso. Inclusive eu não sabia).

Escrevo agora não como um especialista que sabe destrinchar toda uma sinfonia, mas escrevo agora apenas para dizer que vale muito a pena parar para escutar um clássico. E talvez se você é um especialista esteja até criticando o meu ritual de escrever e escutar. Mas é que realmente a música clássica tem mexido comigo.

Perguntava sempre por onde começar? Bach, Beethoven, Tchaikovsky? Ficava em dúvidas e por falta de interesse não dava o simples passo de começar. Não tem um por qual compositor, apenas tem um “comece”. Caso você nunca se interessou por música clássica e é brasileiro, indico-te (coloque no youtube) bachianas brasileiras No. 5. Simplesmente linda!


 Aproveite a viagem, depois dos primeiros minutos de susto, você acaba acostumando e deliciando-se em todo o sentimento que um clássico pode fazer aflorar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A vida é um ciclo

Quanto mais se sabe, maior é a responsabilidade; quanto mais se aprende, maior é o sofrimento. (Eclesiastes 1:18)
A vida é sempre a mesma coisa. Parece que a vida é feita de ciclos, de vários ciclos. É como se fosse uma imensa roda gigante. Um vai e vem sem fim até a chegada do fim. Nada de novo. Nada de novidade. E o nada novamente.
É um tédio só. Uma mesmice sem tamanho. Nada tem sentido.
Assim é a vida. Assim enxerga a vida quem já viveu vários anos, e quem dedicou-se em buscar pelo sentido da vida. Essa é a percepção de Salomão acerca da vida.
A busca pela sabedoria, a busca pelo viver bem é revelador. Quem busca por sabedoria, consegue desvelar alguns mistérios da vida. Consegue perceber que nada tem sentido. Que o que vale a pena é a dedicação a Deus. Que viver a vida em busca de prazer, conhecimento, riquezas é como correr atrás do vento.
Descobrir isso é adquirir mais responsabilidades sobre a vida que se leva e sobre as escolhas tomadas. O peso é maior, o sofrimento é maior.
O conhecimento, a sabedoria doem, pois exigem mais responsabilidades. Como já dizia o tio Bem em homem-aranha: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Sobre dar conselhos - perspectiva cristã

Só podemos dar conselhos a alguém se temos experiência no assunto tratado?
1 - A experiência é subjetiva - relativa:
A experiência, como parte das situações vividas por alguém, é subjetiva, faz parte da história de vida de alguém, e, por mais que possa se repetir alguns padrões, ela é única e exclusiva de uma única pessoa. Logo a experiência é relativa.
2 - O conselho está sustentado na bíblia, que é objetiva - abslouta:
Dentro da perspectiva cristã, todo conselho deve estar pautado na palavra de Deus - na bíblia. Esta, por sua vez, não é subjetiva, não há como relativizá-la, ela é objetiva. Todo conselho, primeiramente passa pelo filtro da verdade de Deus.
3 - Legitimidade do aconselhar sem ter vivido a experiência do assunto tratado:
Muitas pessoas tentam invalidar o aconselhamento de uma pessoa por esta não ter a experiência em determinado assunto.
Por exemplo: se não sou casado, não posso aconselhar casais.
Este argumento dá ênfase na experiência que, como já foi dito, é relativa. Entretanto existe uma problemática em pensar assim, pois pensando dessa maneira a ênfase ou validação do conselho está na experiência vivida pelo aconselhador. Quando na verdade, ela é um complemento e não um fim em si mesma. Não é a experiência que valida o conselho.
Qual é o guia da vida de todo cristão? O guia é a palavra de Deus. Por isso o conselho é validado por esta base, que é a base de todo o pensamento, vivência, e guia de vida cristã: a bíblia.
A bíblia não é relativa, ela é absoluta.
Logo:
a) Se o aconselhador não possui experiência e nem está baseado na bíblia, o conselho não deverá ser seguido.
b) Se o aconselhador possui a experiência no assunto tratado, porém não está baseado na bíblia, o conselho não deverá ser seguido.
c) Se o aconselhador está baseado na bíblia, porém não possui experiência no assunto tratado, o conselho deverá ser seguido.
d) Se o aconselhador está baseado na bíblia e possui experiência no assunto tratado, o conselho deverá ser seguido.
4 - O que valida o conselho?

Podemos concluir que o que valida o conselho não é a experiência em si, pois esta é relativa, é subjetiva. Ela é apenas um complemento. O que valida um conselho é se o mesmo está pautado ou não na bíblia. Não é necessário eu possuir experiência com drogadição para eu aconselhar drogaditos.

domingo, 8 de maio de 2016

Receba a minha e-zine às terças-feiras!


Oi!! Tudo bem?? Meu nome é Othon Júnior, sou Psicólogo, Logoterapeuta, Analista Existencial, e Músico. Juntando a minha formação e minha experiência, compartilho a você meu novo projeto: a minha e-zine, que nada mais é que uma publicação periódica, uma mini revista, distribuída por e-mail

OBJETIVO:
Otimizar significa buscar a excelência. Como disse o mestre nazareno, o homem é um grão de mostarda. Existe uma potencialidade em você, mesmo às vezes você não acreditando. Tenho a intenção de ajudá-lo(a) nessa caminhada de othimização da sua vida com alguns conteúdos

QUAIS CONTEÚDOS?

1 - MÚSICA
Indicação de uma música para você curtir durante a semana

2 - HEBRAICOCIONAL
Microdevocional baseado no significado em hebraico de uma palavra escolhida

3 - OPINIÃO
Reflexão sobre um assunto relevante que tenha ocorrido durante a semana

QUANDO?
Uma vez por semana. Todas as terças-feiras uma nova e-zine Othimize-se estará no seu e-mail

| deixe seu e-mail nos comentários e participe desse projeto ou então basta enviar um e-mail para othimizese@gmail.com solicitando o desejo de participar da e-zine |

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Consumidores de informação ou formadores de opinião?

“Certa vez ela (uma sunamita) sugeriu ao seu marido: ‘Olha: sei que esta pessoa que sempre nos visita é um santo homem de Deus. Portanto, vamos construir para ele, no terraço, um quarto de tijolos e colocar nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lamparina. Deste modo, sempre que passar por nossa casa ele poderá se hospedar nele.’” (2 Rs 4:9,10)

Temos nesse trecho algumas tipologias: uma sunamita (a igreja); um velho (liderança velha, que ficou no tempo porque não tem possibilidade de gerar uma nova geração); e Eliseu (carrega a revelação profética, ele é o espírito da revelação).

Entendido isso, entendemos no texto que a sunamita, isto é, a igreja de cristo – eu e você -, descobriu que não era suficiente ter o profeta apenas como visitante, mas sim tê-lo como morador.

O que isso nos ensina? Que é necessário perdermos o mau costume que os irmãos possuem de ficar pulando de evento em evento, pois necessitam de “um fogo novo”, de um “gás novo”.

A sunamita entendeu que não bastava apenas ter a revelação profética de Deus como visitante, de tempos em tempos. Mas agora era preciso ter a revelação como moradora de sua casa. É preciso transicionar de consumidores para produtores de alimento espiritual. Abandonar o espírito profético como visitante e fazê-lo habitante.

A igreja por muitas vezes não tem gostado de pensar, tem gostado apenas de sugar. É necessário deixar de ser reprodutor de informação e passar a ser formador de opinião.

É preciso tomar o exemplo da sunamita e construir um quarto para fazer a revelação de Deus habitante em nossa morada.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Rito Vs. Espiritualidade

Um dos assuntos quem tem mais me incomodado nos últimos dias é o fato das pessoas confundirem ou não terem entendimento sobre dois assuntos distintos que por muitas vezes se confundem.

Rito, de uma forma simplificada, é um conjunto de palavras e atos que, realizados de forma sucessiva e ou repetida, formam uma cerimônia. São atividades organizadas nas quais as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem, comportamento.

Espiritualidade é a instância ou dimensão última do ser humano. É uma realidade humana que está presente em todos os homens. É a dimensão do homem que faz com que este pergunte pelo sentido da sua vida. Pelo que vale a pena viver e pelo que vale a pena morrer.

Muitas pessoas, principalmente os que acham que detém a autonomia do divino, têm confundido rito com espiritualidade. O rito é externo ao homem, se restringe a locais, seja um templo, uma sala ou o seu quarto; ele só pode ser praticado ali, em determinado horário ou dia; e com a ajuda de materiais (velas, livros, orações programadas, amuletos). Enquanto que a espiritualidade, à medida que é intrínseca ao homem é interna, logo não está presa às limitações do rito. A espiritualidade é interna e independe dos limites físicos relacionados à estrutura.


A problemática dos dias de hoje é que as pessoas se valem do rito para dizer que possuem uma espiritualidade. O rito não exclui a espiritualidade, mas esta transcende aquele. A espiritualidade precisa ser maior que o rito, pois este é apenas parte do que eu faço, mas a espiritualidade faz parte de quem eu sou.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Geração Líquida Moderna Vs. Propósito Divino Eterno

Não é de hoje que se sabe que vivemos em uma sociedade em que existe a perda dos valores, parece que não existe mais um norte a ser tomado, não existem mais regras a serem seguidas, cada um parece inventar, criar e seguir sua própria regra.

Isso é o que o sociólogo polonês Zygmund Bauman chama de um mundo líquido moderno, i.e., assim como um líquido, ele jamais se imobiliza nem conserva sua forma por muito tempo. Quase tudo no nosso mundo está sempre em mudança. O que parece correto hoje, amanhã já será fútil e incorreto.

Diante desse quadro que nos é apresentado, fico imaginando e entendendo o porquê da dificuldade que a atual igreja, principalmente aqueles que estão em mais contato com essa liquidez, enfrentam. Dificuldade em qual sentido?

Do outro lado da balança coloco o propósito eterno estabelecido por Deus para cada um que acredita nele. Um propósito, predeterminado segundo a boa, perfeita e agradável vontade dele, que não muda, algo bem sólido, que vai de encontro a essa liquidez moderna.

Tudo muda muito rápido, as tendências, as estratégias de crescimento, de se fazer igreja, de atrair pessoas para o culto. A linguagem se transforma. E nós, enquanto igreja, ficamos diante disso, ao que me parece, perdidos! Pois muitas vezes temos ido atrás da liquidez em vez de ir atrás da solidez, que é Cristo, a rocha.


Por que esperar vários anos até que o processo se cumpra e a vontade se estabeleça se eu posso me adequar à novas tendências, fazer coisas e obter resultados até melhores do que se eu esperasse por aquilo que não muda?!

Essa é uma grande problemática a qual devemos estar atentos para não negociarmos o nosso propósito eterno. Que você não se deixe ser levado pelo balanço da liquidez, mas esteja firme na rocha!

O que aprendi com o profeta Natã?

A história do profeta Natã é encontrada nos livros de I e II de Crônicas. Ele viveu no mesmo tempo em que reinou Davi e depois seu filho Salomão. Foi a este profeta que Davi contou a vontade de edificar o templo de Deus e também por meio dele Deus falou que não seria através de Davi, mas sim por meio de um de seus filhos. Este também foi o profeta que confrontou Davi em seu pecado, além de ter criado Salomão.




Natã foi um homem que deve ter influenciado várias pessoas, porém as mais conhecidas são os reis Davi e Salomão. O profeta confrontou um pecado (2 Sm 12:7) e teve a oportunidade de criar um “amado do Eterno” (2 Sm 12:25). Então, o que eu aprendo com o profeta Natã?

Quando eu tenho um pecado confrontado por Deus, e me posiciono com o arrependimento como Davi o fez, Deus me dá a oportunidade de dar vida a um filho, que será amado por Ele e que irá construir um templo para a adoração do Deus vivo.

Filho e templo aqui, não literais, mas um filho no sentido de uma mensagem (um propósito de vida, uma obra) e um templo no sentido de um altar. Duas coisas que todo cristão deveria levar consigo: uma mensagem e um altar. Só consigo compreender a mensagem que Deus tem pra mim quando me arrependo, troco as minhas vestes (2 Sm 12:20) e mudo a minha mentalidade. Só construo um altar para Deus quando a minha vida passa queimar pela a mensagem que carrego.


Isso é o que devemos aprender com o profeta Natã, a correção de um pecado gerará uma mensagem, pois na área em que você se acha mais fraco é justamente a área que Deus vai te tornar mais forte. E nessa área que Deus tornará forte, você levantará um altar de adoração a Ele. Os altares são móveis, nós somos os altares, logo aonde quer que formos esse altar estará sendo queimado e estará à mostra para que possamos influenciar outras pessoas. 

terça-feira, 15 de março de 2016

Marketing Existencial por Luiz Felipe Pondé

Vivemos na era do marketing. Hoje, vou apresentar para você um novo conceito, o conceito de "marketing existencial".
Marketing como paradigma se coloca ao lado daqueles que, desde a Grécia, como os sofistas, defendiam, contra Platão, que "ser é parecer ser". Portanto, toda nossa conversa hoje pressupõe que você entendeu que em momento algum estamos discutindo "o ser em si" das coisas, mas o modo como elas "parecem ser" no mundo de pessoas em busca de sentido.
Aqui, mesmo a busca da metafísica é uma busca por um bem que faça bem ao "eu" consumidor.
Em breve as ciências humanas trabalharão a maior parte do tempo para o marketing -afora as igrejinhas nos departamentos de ciências humanas por aí. Isso porque a relação do sujeito com o mundo está, a cada dia, mais "commoditizada". Até Jesus é uma commodity.
A principal commodity no marketing existencial é o "si mesmo pleno de si". Daí "existencial" no nome.
O conceito de "existência" nasce com o pensador dinamarquês Soren Kierkegaard, no século 19, pai da filosofia mais tarde conhecida como existencialismo.
A "assinatura" do existencialismo é "a existência precede a essência", ou seja, antes de termos algum significado que nos defina e oriente, somos um "existente jogado no mundo", como pedras, árvores e animais. A diferença é que nós temos consciência, e aí vamos em busca da essência.
Kierkegaard dizia que isso nos faz descobrir que somos "feitos" de angústia. Angústia pelo infinito de possibilidades de um ser que é "apenas" um existente.
Não é longe dessa ideia que Sartre, já no século 20, dirá que somos "condenados à liberdade": pouco importa o que façamos porque tudo tem zero de significado em si.
Vivemos num mundo de existentes em busca de sua "essência", pautados pela lógica do mercado de bens invisíveis.
Vou usar a palavra "existente" pra ficar no domínio do termo, mas você pode trocar por "pessoa" ou "indivíduo" que está valendo.
Como exemplo de bens invisíveis podemos dar liberdade, autonomia, saúde/bem-estar, autoestima, gozo, sentido, ousadia, experiência. Todos podem ser resumidos no conceito de comportamento.
A consequência é que o marketing (acima da política, essa "arte velha") já percebeu que fazemos qualquer negócio (mesmo os que mentem) pra aliviar o vazio desse "existente abandonado no mundo".
O marketing existencial é uma ferramenta, não um conteúdo. O conteúdo pode ser "profundo" como um retiro espiritual no Tibete ou superficial e brega como Orlando.
Pode ser ágil como uma bike num parque ou lento e "coletivo" como escolher o ônibus como opção "existencial". Pode ser barulhento como uma igreja pentecostal ou silencioso como um mosteiro no Monte Athos na Grécia. No foco, o "si mesmo" em busca de sentido.
Algo de muito interessante nesse universo é que a oposição não é entre "profundo" e "superficial", mas entre bens de sentido de luxo e de massa. No mundo do marketing existencial, um consumidor sofisticado é aquele que tende ao invisível, enquanto o consumidor banal é aquele que busca, babando, a visibilidade.
Por isso, em nosso mundo dos conectados, nada mais banal do que defender a conexão, nada mais elegante do que desprezá-la. Quem despreza as redes sociais passa um atestado de consistência existencial porque não "precisa de ninguém".
Comportamento de luxo só é visível pela ação, e não pela ostentação. Muito mais elegante para um existente é parecer dono do seu tempo e andar sem "roupa chique" no shopping do que sonhar em ser Prada quando a alma é da rua 25 de Março.
Felicidade é, evidentemente, um bem invisível, mas relacioná-la a uma mala cheia vinda de Miami caracteriza um existente pobre de espírito. Existente de luxo não compra nada.
Claro, porque ele tem quase tudo ou porque tem uma experiência de autossignificado tão potente que comprar soa coisa "para os fracos".
O marketing existencial de luxo é a "commoditização" definitiva do romantismo e seu desprezo pela modernidade burguesa e mercantilista. Os filósofos definitivos para esse consumidor de luxo são Spinoza e Nietzsche.
ponde.folha@uol.com.br
@l_fponde

quarta-feira, 9 de março de 2016

Que é a música?


A música é – de modo incomparável no seu gênero e na sua ambivalência – imagem do cosmos e quinta essência da representação da paixão humana, voz angélica em louvor de Deus e instrumento do demônio, promotora e destruidora do bem e do mal. Como nenhuma outra arte, ela pode sarar e consolar, embelezar e exaltar, estimular e pacificar, seduzir e fortificar. Sendo existencial neste sentido, consegue obter em grau máximo o efeito geral da arte: atrair a si e ao seu mundo. – um outro mundo – o homem na sua esfera existencial. (Hans Eggebrecht e Carl Dahlhaus – Que é a música?)

A música é considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. A música é uma forma de expressão do homem. Todo homem pode expressar-se através da música, seja criando ou reproduzindo. Pois, como bem disse Eggebrecht e Dahlhaus, representa a emoção humana.

Partindo desse pressuposto desejo levantar no decorrer dos nossos momentos reflexões acerca de homens que buscaram expressar suas inquietudes existenciais. Mais do que conceituar, segmentalizar, ou catagolar, procurarei analisar a angústia humana na sua busca pelo divino.

Nos evangelhos de Mateus e Marcos, é relatado que o Mestre de Nazaré e seus discípulos cantaram um hino após a ceia. Esse é o único relato de Cristo cantando, ele estava expressando as suas emoções, pois havia chegado o momento de sua crucificação. Segundo a tradição os hinos que eles cantaram são os chamados “salmos do Hallel”(hallel significa louvor), que segundo o comentário bíblico Moody, seriam os Salmos 105-118, cuja recitação encerrava a ceia. 


Durante a semana que você possa refletir em cima desses Salmos e tentar imaginar qual deles Jesus cantou antes de ir para o monte das oliveiras. Eu creio que ele cantou o Salmo 116 e você?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O sétimo dia é uma mentalidade

Hoje iniciarei um estudo sobre o sétimo dia, o dia em que o criador descansou e tentarei trazer um entendimento acerca do significado desse descanso e por que esse dia foi abençoado e santificado por Deus.

No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara e nesse dia Ele descansou. Deus, o criador, descansa no sétimo dia. O criador aprecia toda a perfeição da sua criação, pois descansar significa deleitar. Deus pausa tudo e contempla a sua obra perfeita. Ele está dizendo para toda a sua criação: “Olha só o que eu criei, tudo isso ao seu redor foi obra minha. Hoje é o sétimo dia e estou aqui usufruindo dessa presença.”

O criador descansou no sétimo dia e isso não significa que Ele tirou uma folga para a recuperação de suas forças físicas e mentais exauridas durante o trabalho, pois Deus não se cansa como diz o profeta (Is 40:28). Mas o cessar das suas atividades foi para o gozo da alegria decorrente da conclusão de uma obra. A obra era perfeita, pois não havia pecado nem corrupção. Este é o cenário do sétimo dia: Deus repousando. Descansar ou Repousar significa “estar colocado” ou “estar estabelecido em”. Deus descansou, ou seja, Ele se colocou na criação. Sua presença agora era presente. A presença constante de Deus sobre a criação é que significa esse descanso.

O sétimo dia é especial, pois toda criação toma conhecimento da presença do seu criador. A revelação é progressiva. Todas as coisas foram sendo criadas e tomando as suas funções dentro da obra completa da criação, mas ainda não havia a plenitude. E esta chegou apenas quando o criador descansou, ou seja, quando o Pai derramou a sua presença, abençoou e santificou o sétimo dia. 

A revelação é progressiva, a cada novo dia Deus ia adicionando elementos na criação e o último elemento adicionado foi a sua presença sobre a obra no sétimo dia, por isso Deus abençoou-o e santificou-o. Este é o princípio do dia sétimo dia, a realidade da presença de Deus. Só aquilo em que o Senhor repousa é santo. Deus estava nos ensinando que é a partir da sua presença.

Existem várias passagens que encorajam os filhos de Israel a guardarem o sétimo dia.  No livro do profeta Isaías no capítulo 58 Deus está exortando sobre o verdadeiro jejum. O povo estava separando apenas um dia, humilhando-se, inclinando a cabeça como o junco e deleitando-se sobre pano de saco e terminado esse dia de separação voltava-se as práticas das mesmas maldades e impiedades de antes. Nenhuma observância religiosa tem valor para Jeová se não for apoiada por uma vida piedosa. Não bastava apenas restringir a um ato a tentativa de consagração, aproximação, reconciliação ou deleite em relação a Deus.

Deus exorta o povo a deixar de seguir o seu próprio caminho e honrar o sábado. “Caminho” refere-se às ações e ao comportamento do homem, ou seja, é um modo-de-ser. Deus está dizendo que honrar o sábado não é um rito – conjunto de cerimônias praticadas em uma religião -, mas uma mentalidade – maneira de pensar ou estado de espírito. Logo, se é uma mentalidade, não está associada a fatores externos, mas está conectada a fatores internos. O rito se limita a locais e materiais enquanto que a mentalidade se apoia a presença e a transcendência.
            
Rito significa um conjunto de cerimônias praticadas em uma religião. Ao passo que mentalidade significa maneira de pensar ou estado de espírito. Logo o rito se restringe a locais (casa, templo, galpão) e materiais (vela, pão, taça, vinho), enquanto que a mentalidade está ligada a fatores internos e independe dos limites físicos relacionados à estrutura.

Por isso Cristo diz: “Eu sou o Senhor do sábado”. Ele mostrou aos fariseus que a vida é mais importante que o preceito. O estar nele, como cita o apóstolo João no seu evangelho no capítulo quinze, o permanecer em Cristo, é o modo-de-ser que devemos seguir.

O shabbat ou o entendimento sobre o sétimo dia nada mais é que o prazer de Deus e o desfrutar de quem se achega até Ele. Quem faz disso um rito, não entendeu o Cristo e ainda vive sob o prisma de Moisés. Yeshua sabia que o shabbat fora dado ao homem para que o homem encontrasse no Shabbat (presença), a alegria, a liberdade, o refrigério da alma, a cura; e essa presença não deve ser condicionada apenas a ritos, mas ao viver do homem em todas as suas circunstâncias.