Frase:
Tenho 54 anos, e minha geração é das canções, da poesia na música. Na minha
formação afetiva, o romantismo está gravado. (Domingos Montagner)
Na
semana que passou houve um incidente que comoveu o país que foi a morte do ator
Domingos Montagner. Aconteceu de uma maneira abrupta, repentina; e, talvez por
isso, o choque tão grande. Toda morte é trágica, sem dúvida. Porém, quando
acontece de uma maneira inesperada, através de meios que, naturalmente, não são
comuns a esse tipo de acontecimento, como foi o ato de um banhar de rio, a
comoção é maior.
Alguns
artistas já nos deixaram assim, de maneira inesperada. E o que mais me assusta
muitas vezes não é a maneira em que eles deixam essa vida. Mas o que me assusta
mesmo é a interpretação dos crentes em relação à esses acontecimentos.
A
vida é frágil, ela é um sopro. Todo ser humano, nasce e morre. Todo. Tanto o ímpio
quanto o crente. Isso é o resumo da vida, posso dizer. Meu amigo, não ache que
a morte do Domingos foi por conta de que a rede globo tem pacto com o demônio
ou algo do tipo.
O
que aconteceu foi uma fatalidade, neste ano apenas os meses de fevereiro e de
julho não registraram nenhum caso de morte no rio São Francisco. É um rio
perigoso, os oceanógrafos já diziam isso, talvez por nossa ignorância não
conhecíamos sobre o assunto. E por mais ignorância ainda cristãos proliferam o
discurso do castigo divino.
Antes
de qualquer conclusão, baseada em uma crença religiosa ou em discursos de
pessoas que detém a retórica do religioso, é preciso analisar. Eu creio sim em
coisas espirituais, mas é preciso olhar com a lente adequada. Quem foi que
pecou? Quem foi o culpado pela morte dele? O seu pecado? O pecado da globo?
Parece-me
que os cristãos tem sede do sangue daqueles que não acreditam na obra do
Cristo. Parece que ficamos (e incluo-me nessa categoria, pois também sou
cristão) esperando um vacilo para esbravejar: “Eu disse! Sabia que esse pecado
ia trazer consequências! Eu avisei!”.
Até
quando vamos agir assim? Está na hora de crescer. Cresça eu, cresça você. Não caia
nesses discursos sanguinários, porém procure agir como Jesus agiu. O tempo é
chegado de revermos a nossa ética, parece que fazemos o contrário do que Cristo
nos ensinou. Em vez de amar viúva e cuidar dos órfãos, esbravejamos que o seu amado
esposo e pai, morreu em função de macumba.
E,
como diz Salomão, é melhor ir a uma casa em luto do que ir a uma casa em festa,
porque esta – a morte – é o final de todo ser humano e é nela que os que ficam
tem a possibilidade de refletir. Inclusive sobre a ética cristã, que é tão
frágil e paradoxal nos nossos dias.