A hora de ir à tua casa se aproxima. Penso se tenho ido no modo automático. Ou não. Se me banho, me arrumo, me perfumo e vou à tua casa com a ideia de que esse, o dia de hoje ser, talvez, a última chance que tenho de te encontrar. Penso e vejo que a posição que tenho tomado é a do desleixo, penso que a vida ainda será longa por que hoje, ainda sou jovem (e quem disse que a duração da vida tem alguma relação com os meus poucos anos?!).
Mas tento não me prender a isso e nego esse paradigma. Imagino que terei anos duradouros pela frente e por isso vou ao teu encontro de qualquer jeito. Penso que ainda terei várias oportunidades para ir, como se fosse a última vez e finalmente chegar o momento de aproveitar tudo o que tiver ao meu alcance. Ainda terei chances de me preparar adequadamente. Ainda conseguirei ir ao teu encontro com o coração aberto e a mente vazia. O coração aberto para te sentir. E a mente vazia para não pensar nas coisas temporais que passam diante dos meus olhos. Com o coração aberto para sentir o teu afago. Com a mente vazia das preocupações do cotidiano. Com o coração aberto, pronto para afastar todas as angústias da minha alma. Com a mente vazia para quebrar todos os sofismas.
Ora, e se, eu soubesse que hoje fosse minha última oportunidade de te olhar, como eu iria até você? Com certeza usaria a minha melhor roupa, o meu melhor perfume, me prepararia da melhor forma, aproveitaria cada momento. Estaria diante de ti, não apenas fisicamente como o tenho feito, mas também com todo o meu entendimento, com toda minha alma e com todo o meu coração. Cada momento seria único e o levaria comigo para a eternidade. Mais ainda, e se, toda vez que, quando estivesse me arrumando para ir ao teu encontro, eu me comportasse como se essa fosse a última vez?